Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

sábado, outubro 22, 2005

Moeda de Ouro

Meus amigos, agora que voltamos do passeio a Porto de Galinhas, as visitas aqui em casa - sempre bem-vindas! - prazerosamente nos ocupam. O tempo escasso não me permite elaborar um post pessoal. Mais uma vez, compartilho com todos as lições do contador de histórias, Malba Tahan:

Quando o poderoso e justo califa Omar Ibn-Kaattab, que conquistou a Pérsia e dominou o Egito, caminhava um dia acompanhado de grande comitiva pelos arredores de Medina, aproximou-se casualmente da pobre casa onde morava um velho muçulmano chamado Mahamed Bem-Ibraim, tão famoso pelo seu caráter como pela bondade com que o adornava.

O cadi Zemam Edim (Allah se compadeça dele), homem invejoso e intrigante, que vinha ao pé do soberano, observou:

Naquela casa, ó Emir dos Crentes, mora o velho Mahamed Ben-Ibrahim que viveu entre os infiéis e idólatras de Constantinopla! Perverteu-se com certeza! Não pode mais merecer a nossa amizade nem a nossa confiança!

Ao ouvir essa pérfida insinuação – que vinha como a flexa do bárbaro cheia de veneno – o generoso califa não se conteve e sentiu que o malévolo cadi deveria receber, naquele momento, uma duradoura e profunda lição de moral. Tomando, pois, uma moeda de ouro, atirou-a na lama do caminho e ordenou:

- Apanha-me, cadi, aquela moeda de cobre!

- Zenan Eddin, que tinha visto a moeda observou respeitoso:

- Por Allah! ó califa! Segundo creio, deveis estar enganado. Peço-vos humildemente perdão, aquela moeda é de ouro e não de cobre

- Tem certeza?

- Tenho, sim, ó comendador dos crentes! Eu a vi em vossas mãos!

E apanhando a moeda, limpou-a da lama negra que a sujava e entregou-a ao califa.

Omar Ibn Al-Khattab, o poderoso senhor das terras do Islam, dirigiu-se, então, calmamente, ao maldoso cadi e disse-lhe:

Asseguraste, com absoluta firmeza, que a moeda de ouro nada poderia perder de seu valor ao cair no meio da lama. Também o homem puro, de caráter forte, não se perverte no meio dos maus e dos depravados. Conserva-se puro, como o ouro da moeda, no meio da podridão.!

Fica, pois, certo, ó cadi, de que o meu amigo Ibrahim, apesar de ter vivido entre os idolatras e os inimigos de Deus é, ainda hoje, o mesmo homem digno sincero e leal que conheço há mais de 15 anos.

E tomando por um atalho, dirigiu-se com sua comitiva, para uma pequena casa, onde vivia, isolado e quase esquecido, o velho e bondoso Mahomed Ben Ibrahim.

terça-feira, outubro 04, 2005

O JUIZ E O PAPAGAIO

Hoje estou reproduzindo uma história contada por Malba Tahan:

A opulenta cidade de Cabul vivia, naquele tempo, agitada por um estranho boato. Diziam alguns, afirmavam muitos, que o íntegro e prestigioso juiz Fauzi Trevic, antes de sair para o exercício de suas altas funções no Tribunal, ouvia os conselhos de um papagaio.

Havia até quem soubesse particularidades sobre o caso. O papagaio fora trazido das montanhas por um feiticeiro famoso e vivia encerrado em um rico aposento, longe das vistas e dos ouvidos curiosos

Os mais ousados garantiam que se tratava de uma ave encantada, que trazia no corpo o espírito de um gênio – um djin, talvez.
O maravilhoso papagaio conhecia jurisprudência e ditava leis com eloqüência e sabedoria dos grandes ulemás. Não havia, aliás, outra explicação para aquele mistério, pois o juiz Trevic proferia sentenças notáveis, fundamentadas sempre com grande elevação, elogiadas pelos advogados mais exigentes e intolerantes.

O caso chegou, afinal, ao conhecimento do rei Nassin bem-Nassin.

- Mac Allah – exclamou o soberano persa.

- É assombroso! Quem poderia acreditar que houvesse no Oslam, um papagaio capaz de orientar as longas sentenças de um sábio juiz?

Resolvido a esclarecer, de qualquer modo, o enigma, o poderoso rei mandou vir á sua presença o doutissimo Fausi Trevic e interrogou-o:

- Seria verdadeira aquela voz que corria pela cidade, abalando os incrédulos e enchendo de infinito assombro os simples e os ingênuos?

- Sim ó rei magnânimo! É verdadeira a voz - respondeu o ilustre “cadi”. Não devo ocultar a verdade, todos os dias antes de seguir para o Tribunal, ouço os conselhos de um modesto papagaio verde de bico amarelo! Juro pelas barbas de Maomé, que é essa a expressão da verdade!

- Exaltado seja Allah, o Único! – Exclamou o monarca. – Não creio que possa existir, sob o céu ou sobre a terra, maravilha maior do que essa que acabais de revelar!

- Vejo-me forçado a dizer-vos, ó Rei do Tempo – prosseguiu o juiz – que o papagaio, meu amigo e conselheiro, só sabe pronunciar duas palavras, com esse limitadíssimo vocabulário, consegue ele orientar, com segurança e clareza todas as minhas sentenças.

- Com duas palavras! Que palavras mágicas serão essas que servem como dois faróis no meio do oceano das leis?

- Respondeu o digno magistrado:

- Bondade e Justiça! Justiça e Bondade!

- Eis as duas palavras que ouço todos os dias de meu papagaio! Procuro tê-las sempre bem viva no fundo do coração! Quando estudo as causas, sobre as quais sou obrigado a votar e decidir, esforço-me por ser bom, ser justo, a Justiça que corrige ou castiga deve ser inspirada pela Bondade que nobilita e eleva. Ainda mais: a Bondade, que exalta o fraco, não pode prescindir da Justiça que reabilita o forte. Confesso, pois, que todas as minhas sentenças são norteadas pelo admirável conselho do papagaio:

- Bondade e Justiça!

- Por Allah senhor dos mundos visíveis e invisíveis! Por Allah! Seguissem todos os Reis, Ministros e Magistrados o conselho do papagaio, a felicidade desceria sobre os povos e a paz reinaria entre as nações.

- Uassalam!