Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

Minha foto
Nome:
Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Visita de autoridade

Essa aconteceu em fevereiro de 1981, há 24 anos. Quem me relatou o acontecido foi Ilídio, meu filho.
Achei tudo muito engraçado, rimos bastante, o Xistinho confirmou, o Ilídio parecia um herói. Mais tarde, eu e Aparecida advertimos nosso filho sobre sua aventura, cuja repetição não poderia ocorrer jamais:

- Somente pessoas desonestas fazem o que você fez.

Ilídio aceitou nosso conselho perfeitamente: Hoje, é engenheiro, casado com Nancy. São pais de um lindo casal de jovens, Mateus Henrique e Larissa, que sentem orgulho do papai.

O Ilídio, irmão do Cláudio, do Prascabeças, foi dispensado do Serviço Militar por excesso de contingente.

Junto a outros na mesma situação, teve de comparecer à Câmara Municipal para receber o Certificado de Reservista, em solenidade com presença de Vereadores daqui de Nova Era.

Todos juraram defender a pátria se preciso fosse e cantaram garbosamente o Hino Nacional Brasileiro.

Após o discurso, os rapazes receberam o Certificado de Isenção ao Serviço Militar, uma carteira verde oliva, com as insígnias do Exercito Brasileiro.

Ilídio é quem conta:

- No dia seguinte fiquei a pensar: É, não vou servir ao exército, essa carteira será de muita utilidade, talvez consigo até um bom emprego, verei.

Um belo dia, eu e Xistinho, filho de um funcionário da Justiça, fomos passear em São Domingos do Prata.

Desde que meu pai, o Soié, do Soié Bar, era rapazinho, bem antes de conhecer minha mãe Aparecida, ele e seus colegas gostavam de visitar a cidade vizinha. Até hoje os rapazes daqui mantêm este costume.

Lá chegando, eu e Xistinho tomamos umas e outras, pois ninguém é de ferro. A seguir encontramos com nossas namoradas e fomos para o clube recreativo onde as meninas entraram. Como não tínhamos convite, fomos barrados.

- Puxa vida, exclamei, como vamos fazer?

- Talvez mais tarde a gente consiga, disse Xistinho. Vamos esperar...

Tive uma idéia:

- Quem sabe com a carteirinha do certificado eu consigo entrar?

Ah, não deu outra! Aproximei-me de um soldado que estava na portaria:

- Boa noite, soldado!

- Boa noite, respondeu.

- Olhe sou sargento do Exército do 12 RI...

Na mesma hora ele bateu continência para mim.

Disse-lhe:

- Fique à vontade, gostaria que você me ajudasse a entrar no salão.

- Olhe, é difícil, mas vou tentar.

Apresento-me ao porteiro que, e se posicionou dizendo:

- Somente com o convite, que deverá ser solicitado ao Presidente do Clube, na secretaria.

(O negócio estava ficando complicado...)

O milico me apresentou ao Presidente, que me recebeu com muita atenção. Mostrei-lhe a carteira, fingindo estar completamente senhor de mim. Fez um exame superficial do documento e falou:

- Não é preciso convite, o senhor é meu convidado, doutor, pode entrar direto!

(Tou dentro!)

No entanto, o porteiro me barrou, novamente. Não desisti e voltei ao Presidente. Logo se desculpou:

- Essas coisas só acontecem aqui no Prata. Raramente comparece uma autoridade e, quando vem, ficam criando dificuldades. Vamos até lá que faço questão de colocá-lo para dentro, pessoalmente! E acrescentou, como que se desculpando:

- É só o senhor mesmo que vai entrar?

- Não, tem aquele cabo ali que está comigo, já fui falando e gritando com autoridade:

- Cabo Xisto! Cabo Xisto! Venha cá!

Xistinho, entre assustado e desconfiado aproximou-se:

- Que é?

- Beleza, uai, então vamos.

O presidente, impressionado com minha demonstração de poder, deu-me uns tapinhas nas costas acrescentando:

- Aproveitem, qualquer coisa me procurem. Estejam à vontade.

(Era tudo o que queríamos).

Fomos logo ao encontro das meninas, com nossas garotas, brincamos, divertimo-nos muito. Ao terminar o baile, aparece o porteiro acompanhado de dois soldados e o presidente do clube, todos caminhando para o nosso lado. Tremi:

- Puxa vida, estou frito!

Quis correr, mas cadê pernas? Os quatro se aproximaram e o Presidente estendeu a mão, me cumprimentou, agradeceu a minha presença acrescentando que todas as vezes que tivesse baile eu já estava convidado:

- Gostei muito da presença de vocês e por nos ter dado segurança.

- Não há de que, senhor presidente. Precisando estaremos aí.