Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

Minha foto
Nome:
Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

quinta-feira, março 31, 2011

TIRO AO ALVO

T I R O  A O  A L V O

Todos nós precisamos de um pequeno descanso e, como não sou de ferro, resolvi passar uma temporada nas cercanias de Belo Horizonte, a linda capital de todos os mineiros. Como é linda!

Na Casa Salles, loja belorizontina especializada em armas e munições, comprei pequena espingarda, os cartuchos, a pólvora e chumbo dos tipos grosso e fino para dar alguns tirinhos em alvo móvel. É claro que registrei o meu pequeno fuzil na Delegacia de Armas e Munições, pois não sou muito bobo e respeito leis.

Ao anoitecer, eu e minha eterna namorada, Aparecida, chegamos à Serra da Moeda, onde nos hospedamos no chalé de meu filho Clóvis.

Lá pelas tantas da noite, após o banho, fomos dormir para o merecido descanso.

Pela manhã, saímos para um passeio no campo. Levei arma ao ombro e munição a tiracolo. Sentimos um agradabilíssimo perfume de flores variadas e admiramos centenas de lindos e coloridos colibris a esvoaçar de flor em flor, sugando o delicioso néctar. Dúzias de borboletas, em espetáculo silencioso, dançavam surpreendente e levíssimo balé.


Preparei, então, a arma, abastecendo-a de um cartucho carregado com chumbo tipo mostarda, aquele fininho.

Mirei os beija-flores e...  pimba! Muitos fugiram, outros caíram sobre a relva.

Buscamos o caminho açude, em cujas águas se banhavam peixinhos dourados, lambaris, tilápias e carpas preguiçosas. À margem, sete tartaruguinhas se aqueciam sobre uma pedra lisa, talvez em dúvida se deveriam ou não lançar-se numa aventura aquática.

Não pensei duas vezes. Mais um cartucho no fuzil e... pimba! Imediatamente o improvisado trampolim se transformou numa lápide, repouso eterno para sete tartaruguinhas recém-nascidas! Pensei: “Adeus, quelônios!”

Pouco além, seguimos por um aclive suave, em busca da sombra de frondoso jatobá. Era imenso, com suas folhas verde-escuras. Pena que não era época dos frutos, de casca duríssima, porém deliciosos. 


Meu olhar alcançou um casal de joão-de-barro, que me observavam na soleira de sua casa.
Ao estampido do tiro seguiu-se um duplo baque, assinalando aos meus pés que tenho, modéstia à parte, ótima pontaria.
Minha eterna namorada recolheu mais aqueles bichinhos, juntando-os às tartaruguinhas e beija-flores que jaziam no fundo de uma sacola.

Retornamos ao chalé.

Alguém que ouvira tiros telefonara à polícia e já nos aguardava um jovem policial.  Nem bem chegamos, o meganha me interroga:
- O delegado me mandou aqui porque o senhor estava dando uns tiros. O que é que aconteceu?
- Apenas matei vinte beija-flores com um tiro só, respondi com naturalidade.
- Não acredito, retrucou admirado.
Então gritei:
- Aparecida, traga as vinte cabecinhas dos passarinhos pro inspetor ver!

Enquanto minha eterna namorada apresentava um amontoado de penas, o inspetor já lavrava a ocorrência:
- E o senhor matou mais algum animal?
- Aparecida, mostra as sete tartaruguinhas que matei com um único tiro!

Enquanto examinava os restos mortais dos minúsculos quelônios, espichou os olhos pro embornal:
- Ah, disse eu, tem aqui mais um casal de joão-de-barro, que matei com um tiro só, de uma única vezada!

Indignado, o policial levanta a voz e quase berra:
- E não veio nenhum inspetor aqui? Isso é desrespeito à natureza!
Com voz mansa, quase que pedindo desculpas, explico:
- Até que topamos com um outro guarda...
E voltando-me para Aparecida:
- Pegue ali a cabeça daquele inspetor que veio reclamar. Vamos mostrar aqui pro guarda.

Guardando a papelada, o jovem me estende a mão:
- Não é necessário, senhor. Não precisa, senhora. Já está tudo esclarecido, e tenho de voltar à delegacia!

Sem olhar para trás, saiu em desabalada carreira, como se diz. Nunca mais foi visto pelas bandas da Serra da Moeda.


Pois é, hoje é 1º de abril... e nada como uma boa história para pegar os incautos.
Em tempo: respeite e preserve a Natureza!

Marcadores: ,