Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

quinta-feira, março 10, 2005

A CIGANA ME ENGANOU. QUE BOM!!!

Os ciganos são pessoas que vivem de cidade em cidade, vendendo seus tachos e panelas de cobre (muitas vezes simples latão), trocando animais e, às vezes enganando a todos. Têm seu próprio dialeto. Andam sempre em grupo.
As mulheres, com dentes e colares de ouro (ou bijuteria), roupas vistosas em cores vivas, geralmente com os cabelos compridos e em pontos estratégicos das cidades, lêem a sorte na palma da mão de todos que queiram saber o passado, o presente e o futuro.
Há bem pouco tempo, o Cláudio, do PRAS CABEÇAS, fez a minha apresentação dizendo que eu era “seleiro”. Mas, por distração, esqueceu-se de mencionar que eu possuía também uma sapataria na qual, além de consertar, fabricava calçados.

Os ciganos caminhavam muito, assim seus sapatos se estragavam com facilidade. Quando se acampavam em Nova Era, minha sapataria era o ponto preferido pelas ciganas para compra e consertos de sapato e sandálias.

Determinado dia, uma bonita cigana em seus 20 anos de idade, entrou no estabelecimento, sentou em uma cadeira do lado de dentro do balcão e me chamou assim:

- “Psiu”, chega aqui.
Aproximei-me. Estavam presentes meus dois funcionários. Então falou:

- Hoje vou ler a sua sorte e nada cobrarei, repetindo, não vou cobrar nada. Me dê a mão.

Embora sem acreditar que alguém pudesse prever o futuro, consenti. A cigana abriu a sua própria, colocando o dorso de minha mão na palma da sua. Ato contínuo, disse que estava vendo em meu brilhante futuro um mundo de glórias. Falava sempre de algo que todos nós gostaríamos que acontecesse. Em dado momento, exclamou, de chofre:
- Meu Deus, que vejo?! Será possível?
E apontando o dedo para o decote de sua blusa, acrescentou:
- Coloque uma nota aqui, para clarear! Para clarear!
Não coloquei, alegando não ter dinheiro.

Ela prosseguiu declamando seus “decorados” conhecimentos; e os meus funcionários sempre com a atenção voltada para o monólogo da cigana, pois só ela falava. De repente, ficou em silêncio por alguns instantes. Suspense. Em seguida, exclamou:

- Que vejo?! Oh! Que vejo?! Um enterro daqui a alguns meses!!! Não é possível! Meu Deus!!! O viúvo se parece com você!
Com voz pausada, como se tentasse vislumbrar algo ainda meio obscuro, prosseguiu:
- Está tudo com muito nevoeiro, não vejo direito, mas é você mesmo!
E eu, em silêncio, só escutando.
- Ainda há tempo de mudar o destino... Coloque aqui uma nota para clarear, continuava apontando o decote generoso.

- Não tenho dinheiro, retruquei.

A cigana então disse:

- Você quer assim, pois assim será!
Empurrou bruscamente a minha mão e saiu da sapataria.
Lá fora, foi logo dizendo às companheiras, que a aguardavam na calçada:
- Com ele não teve jeito.

É claro que a profecia trouxe muita preocupação para mim, apesar de minha descrença.

Mais tarde, ao retornar para casa, fui recebido pela minha eterna namorada Aparecida, a qual, como sempre, perguntou-me pelo movimento do dia, se trabalhei muito, etc. Respondi que foi tudo muito bom, nada contando sobre a cigana.

Horas depois minha esposa aproximou bem e, em tom de súplica, perguntou:

- Meu bem, que houve? Estou achando você muito sem graça, que aconteceu? Discutiu com algum freguês?

- Sim, Aparecida, desentenderam comigo, mas já passou.

Eu não podia e não queria contar nada sobre a cigana, tinha medo de perder o 1º filho, o Cláudio, que estava para chegar.
Os dias se passaram e o meu silêncio a respeito da possível viuvez permanecia. Logo o Cláudio nasceu. Muita alegria, muita visita diariamente. Chegou o dia do batizado, só alegria, tudo era festa. Esqueci-me por completo das palavras da cigana.

Meses e anos se passaram e o Cláudio ganhou 8 irmãos! Entre eles apenas uma menina, a Sheila.

No dia em que comemorávamos nossas Bodas de Prata, passou por nossa casa um cigano oferecendo um tacho de cobre que não compramos. Quando ele se afastou, eu disse à Aparecida:

- A cigana me enganou. Que bom!

Segurando suas mãos, contei tintim por tintim o episódio de tempos atrás e repeti:
- A CIGANA ME ENGANOU. QUE BOM!!!
Rimos bastante. Já comemoramos as Bodas de Ouro. Em 2008 comemoraremos as Bodas de Diamante.

Aproveito para convidar todos
vocês: compareçam!