Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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sexta-feira, fevereiro 03, 2006

A PEDRA NO MEIO DO CAMINHO

Meu saudoso pai sempre gostava de contar histórias. É impressionante como, até hoje, lembro-me dele e de suas narrativas. Freqüentemente, eu e meus irmãos e irmãs nos reuníamos para ouví-lo, quando aprendíamos muito.

Uma lembrança muito vívida é a história que narrarei a seguir, uma daquelas que o papai contava e repetia sempre que desejava dar-nos uma lição:

Há muitos e muitos anos, um rei muito sábio não poupava esforços para ensinar bons hábitos a seu povo. Freqüentemente fazia coisas que pareciam estranhas e inúteis; mas tudo que fazia era para ensinar o povo a ser trabalhador e cauteloso.
- Nada de bom pode vir a uma nação, dizia ele preocupadamente, cujo povo reclama e espera que outros resolvam seus problemas.

Certa noite, enquanto todos dormiam, pôs uma enorme pedra na estrada que passava em frente ao palácio. Escondeu-se atrás de uma árvore a esperar o que aconteceria.
Logo surgiu um fazendeiro com uma carroça carregada de milho.
- Quem já viu tamanho descuido? Assim disse o fazendeiro, enquanto contornava o obstáculo. E mais:

Por que esses preguiçosos não mandam retirar a pedra da estrada? E continuou a reclamar da inutilidade dos outros. Mas, ele mesmo, nem tocou na pedra.

Mais tarde, um jovem soldado veio cantando pelo caminho. Uma espada reluzente pendia à sua cintura. Sonhava com a imensa coragem que demonstraria na guerra e em todas as honrarias que lhe seriam concedidas. O soldado não viu a pedra até que trombou nela.

Desembainhou a espada e enfureceu-se com os preguiçosos que haviam largado ali tamanho obstáculo.

Afastou-se rapidamente, sem pensar uma única vez que ele próprio poderia retirar a pedra.

Assim foi durante o dia inteiro. Todos que por ali transitaram apenas reclamaram e resmungaram, sem que tomassem qualquer providência.

Finalmente, ao cair da noite, a filha do moleiro por lá passou. Estava bastante cansada, pois desde cedo andara trabalhando no moinho. Ainda assim disse a si mesma:

- Está escurecendo, alguém pode bater nesta pedra e se ferir gravemente. Vou retirá-la do caminho.

Como a pedra era pesada, a moça precisou empurrar muito até conseguir removê-la.

Para sua surpresa, incrustada no chão debaixo da pedra encontrou uma pequena caixa.

Destampando-a, descobriu que a mesma estava cheia de ouro.

A filha do moleiro foi para casa com o coração feliz.

Quando o fazendeiro, o soldado e todos os outros ouviram o que havia ocorrido e acorreram ao local onde estivera a pedra, revolvendo o chão com os pés, na esperança de encontrar alguma pepita.

- Meus amigos, disse o rei surgindo de repente, com freqüência encontramos obstáculos e fardos no caminho. Podemos reclamar em alto e bom som enquanto nos desviamos dele se assim o preferirmos, ou removê-los para melhorar a vida de todos. A decepção é normalmente o preço da preguiça.

Então o rei montou em seu cavalo. Delicadamente, disse “boa noite” e retirou-se em direção ao palácio.