Vai uma Baba de Moça, uma Pilha de Homem ou aceita um Pau Dentro?
Ontem fui comerciante.
Todo comerciante que se preze deve fazer ingentes esforços para que o seu comércio prospere.
Comigo não foi diferente: além de me esforçar muito, tive sempre a indispensável colaboração da minha eterna namorada, a Aparecida. E como colaborou!
Os “meninos” também participaram naquilo que, durante anos, foi um dos sustentáculos de nossa família. Os nove trabalharam no Soié Bar: Cláudio, Clóvis, Cléver, Ismael, Sheila, Jaques, Ilídio, Nélio e Bonifácio, aos quais renovo os agradecimentos.
Eu e meus irmãos nascemos numa velha casa, bem no centro de Nova Era-MG. Na década de setenta, foi demolida para dar lugar a um imóvel de três pavimentos, no qual temos, até hoje, um apartamento “com quintal e cobertura”. Foi numa das lojas deste prédio que montamos a lanchonete, batizada por minha esposa com o nome "Soié Bar e Lanchonete”. Para efeitos fiscais, o registro foi feito em nome da Aparecida, pois eu era funcionário público.
Nós dois decidimos pelo comércio com duplo objetivo: além de aumentar a renda familiar, daríamos aos nossos filhos adolescentes uma oportunidade de sair da ociosidade.
Devo esclarecer que a permanência deles atrás do balcão não os impedia dos estudos nem do lazer. Por exemplo: de acordo com a idade de cada um, ensinei-os a andar de bicicleta, a dirigir e até a nadar na piscina do Minas Esporte Clube.
Aparecida e uma auxiliar de cozinha produziam os gostosos quitutes oferecidos: pastéis, quibes, carne cozida e torresmos crocantes, arroz-doce, bolos, biscoitos. Não faltava o tradicional pão-de-queijo dos mineiros, uai!Tudo da melhor qualidade!
Alguns fregueses tomavam refrigerantes; outros preferiam o café e muitos exigiam aquele toddy que só no Soié Bar era servido... O movimento ia das 5 horas da manhã até à noite e, graças ao nosso capricho, era bastante o suficiente para garantir uma renda razoável.
Como nem só de pão vive o homem, a todos que desejassem aquela geladinha que desce redondo, wisky ou até mesmo aquela-que-boi-não-bebe, o Soié Bar atendia prazerosamente. E como atendíamos bem!
Não sou psicólogo, mas eu conhecia a psicologia dos fregueses. Tanto é verdade, que passei a preparar aquela-que-boi-não-bebe de maneira que todos queriam provar da Laranjinha, da Providência, daquela do Pau Dentro, da Pilha do Homem e de uma tal Baba de Moça. Enfim, umas 20 qualidades exclusivas do Soié Bar, cada qual preparada por mim mesmo, na sobre-loja. Tudo em segredo, pois eu atribuía a uma e outra as procedências e propriedades mais mirabolantes. A "Pau Dentro" tinha um pedaço qualquer de madeira na garrafa. A "Laranjinha" recebia umas cascas de laranja. Assim por diante. Os clientes acreditavam e tinham lá suas preferências. Mal sabiam que todas aquelas diferentes bebidas eram uma só: diferiam na cor e, às vezes, no aroma! Alguns, seduzidos pelos nomes sugestivos, pediam a "Pilha do Homem" e, no dia seguinte, confirmavam sua eficácia. Tal o valor da fantasia!
Coisa importante: jamais houve desentendimentos, falta de respeito, ou qualquer ato que pudesse prejudicar alguém ou a boa reputação do nosso Soié Bar.
O Caju Amigo era o aperitivo preferido dos jovens e das cocotinhas, filhos e filhas de papais ricos. Era servido em dois cálices para cada freguês, sendo 1 de pinga e outro de suco de caju. Bebia-se em primeiro lugar a pinga e, logo em seguida, o suco de caju. Que delicia!
O Soié Bar funcionou por quase 25 anos, até que Aparecida foi convocada para um emprego público (contadora judicial). Os filhos, cada qual a seu tempo, seguiram suas vocações, cursaram a universidade, namoraram, casaram-se, deram-nos netos, etc. Bons tempos os tempos do Soié Bar...
Aquele abraço!
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