Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

sábado, abril 01, 2006

LUA DE MEL E UM PASSEIO DE CHARRETE

Em diversas oportunidades, escrevo algo sobre o meu ótimo relacionamento com a minha eterna namorada Aparecida.

Hoje contarei um fato ocorrido em junho de 1948, por ocasião de nossa Lua-de-Mel.


Um pouco antes do enlace matrimonial, combinamos passar uns dias em ARAXÁ-MG, conhecida por suas fontes curativas e até milagrosas. É a cidade da encantadora Dona Beja, a bela mulher que se banhava nas águas sulfurosas, e está localizada a mais de 350 quilômetros de Belo Horizonte.


O casamento religioso foi à tarde. Após as festividades, lá pelas 22 horas, embarcamos pelo trem noturno da E.F.C. do Brasil com destino a Belo Horizonte, onde desembarcamos pela madrugada do dia 06/06. Um táxi nos levou rapidamente à rodoviária que, na época, ficava bem ao lado da Feira Permanente de Amostras, onde funcionava a P-R-I 3, Radio Inconfidência de Belo Horizonte, Minas Gerais.

A passos largos, nos encaminhamos ao guichê, onde comprei os bilhetes da segunda parte da viagem, ou seja, para Araxá.

Sessenta minutos de espera não tiraram o nosso bom humor, enquanto observávamos o intenso movimento de viajantes que chegavam ou partiam.


Adentramos em uma lanchonete muito legal, com mesas cobertas de toalhas bem limpinhas, onde degustamos um delicioso café, acompanhado de broa-de-fubá recheada com queijo, salpicada com açúcar e canela em pó.


Finalmente, chegou o horário da partida. Após recebermos o comprovante de entrega da bagagem - que sempre esteve sobre nossa vigilância - nos acomodamos nas poltronas.


A viagem foi normal, fora um pneu furado e o atropelamento de um cavalo que estava atravessando a pista. Felizmente chegamos a sem maiores conseqüências.


Desembarcamos na rodoviária local, pegamos um táxi direto ao hotel previamente reservado, cujo nome permanece na memória até hoje: GRANDE HOTEL DE ARAXÁ . Grande e luxuoso.


Estávamos exaustos pela demorada viagem de mais de 24 horas. Após desfazer as malas e colocar as roupas nos cabides, Aparecida decidiu tomar um banho refrescante e bem demorado, recuperando as energias gastas. Ao terminar, estirou-se na cama a fim de descansar um pouco.


Entrei no banheiro. Além do banho, resolvi fazer a barba que já havia crescido. Devo ter-me demorado uns 40 minutos ou mais.
Finalmente abri a porta, aproximei-me da cama e constatei que Aparecida já dormia a sono solto.


Rocei as mãos em seus cabelos e ombros, sussurrando algumas palavras em seu ouvido. Em vão, pois o sono era pesado e dormia com uma tranqüilidade de fazer inveja. Entretanto, devido a minha carinhosa insistência, ela acordou, sorriu... não sei mais nada o que aconteceu...

Acordamos já na hora do almoço e nos preparamos para o restaurante. Que almoço gostoso! Foi nosso primeiro almoço de casados.

PASSEIO DE CHARRETE

Não descreverei o que é uma charrete. Charrete de passeio, todos sem a menor dúvida sabem o que é. Não direi que a charrete de passeio é como se fosse uma cabine de carro, por cima de um eixo fixo, duas rodas paralelas, uma de cada lado. Tem dois varais, um de cada lado também. O veículo é de tração animal: um cavalo arreado com selote, mangote, rédeas etc. preso aos varais puxa a charrete a passos lentos, trote ou a galope, conforme o gosto de cada condutor. Em quase todas as charretes, bem ao alcance do condutor, tem um "facão bem afiado" que pode ser usado em algumas emergências.

É comum o cavalo sair a galope. Uma curva, mesmo pouco acentuada, pode provocar o tombamento da charrete, ocasionando acidentes com sérios transtornos para os passageiros.

Aparecida solicitou ao charreteiro que permitisse a ela própria conduzir o veículo. Após algumas perguntas, o homem se convenceu de que ela era competente e lhe passou as rédeas dizendo:

- "Vou aproveitar enquanto vocês se divertem sozinhos". Piscou o olho pra mim e enfatizou: "mais à vontade". "Tomarei um lanche ali naquela confeitaria, de nome "Casa da Beja".

Eu sabia que, antes do nosso casamento, Aparecida sempre conduzia a charrete de seu pai pelas ruas de Nova Era, levando junto as irmãs e amiguinhas, por isso fiquei tranquilo.


Com maestria fustigou o cavalo, que imediatamene obedeceu ao seu comando. Começou devagar e pouco depois trotava pelas alamedas assombreadas que rodeavam o Grande Hotel. Minha jovem esposa, com elegância e segurança, sempre dominando o animal pelas rédeas, proporcionou-nos um passeio romântico!


A VOLTA PARA O PONTO INICIAL


Contornamos na mão de direção em uma pracinha e iniciamos o retorno aos jardins da entrada principal. Parece que o cavalo percebeu que era retorno e começou a galopar. Aparecida puxou as rédeas e gritou: - ÔÔÔA! ÔÔÔA! Mais alguns segundos, o cavalo pára. Minha esposa relaxa o comando e o animal reinicia um trote, mas logo em seguida volta a galopar. Ela estica novamente as rédeas, berrando:
- ÔÔÔA! ÔÔÔA!

Quando o cavalo finalmente obedeceu, minha doce esposa desce, pega o "facão afiado" e, sem que eu conseguisse impedir, corta-lhe as orelhas, sem dó nem piedade! Assustadíssimo e indignado, em voz alta a censurei:
- Isso é covardia, é ignorância, é maldade, não se faz assim com um pobre animal!


Aparecida, cabeça erguida, olhou-me fixamente e soletrou entre os dentes:

- Fique o senhor sabendo que comigo é assim: quero sempre ser atendida logo da primeira vez que falar, pois da segunda vez, não adianta, corto mesmo!


Jamais esqueci essa advertência. Teimar pra quê?


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Hoje é o Dia da Mentira: Tudo que vocês acabam de ler é pura ficção!
Só me resta rir e gritar:


- Peguei vocês: 1° de abril! 1° de abril! Hahahahhaha!