R O M A R I A
Há poucos dias, falei aqui neste cantinho “ontemehoje,” sobre o Soié Bar Lanchonete.
Hoje, passo a narrar mais um fato VERÍDICO, um outro acontecimento bem interessante, vejam:
Logo à entrada de Nova Era, na margem esquerda da BR-381, para quem chega de Belo Horizonte, existe uma gruta na qual uma nascente de água cristalina emerge entre as pedras. Essa água sempre foi considerada milagrosa, curando doenças e levando felicidade para quem a utiliza. Tanto é assim, que centenas de pessoas das diversas camadas sociais, toda quarta-feira, sobem até à gruta para beber daquela fonte, enchem garrafas do precioso liquido e levam para suas casas.
É crença comum que moça de outra cidade que bebe da água de São José acaba casando-se com rapazes daqui. Por que será que todos os meus filhos se casaram com meninas de outras cidades?
(Alô meninas “casadoiras”, venham beber da água de São José! Quem sabe alguma de vocês conseguirá pescar um maridão em Nova Era?)
O que quero contar, mesmo, é o seguinte:
Há alguns anos, Padre Efraim Solano Rocha, ao assumir a paróquia, cuidou logo da infra-estrutura do local, mandando construir uma escada de concreto com cerca de 10 metros, do acostamento da rodovia até a entrada da gruta.
No dia de São José, 19 de março, uma imagem do santo foi colocada dentro gruta, ao som da banda de música Euterpe Lagoana e do espocar de foguetes, enquanto o povo cantava hinos de louvor ao padroeiro.
Nas quartas-feiras, os moradores da zona rural, de ônibus ou a pé, acorriam à cidade, como em peregrinação. Faziam a sua primeira refeição no nosso Soié Bar Lanchonete. Outros, um lanche, à tardinha.
Determinado dia, quando eu e a eterna namorada Aparecida estávamos de férias em praias do litoral capixaba, os filhos Ilídio e Ismael José gerenciavam o Soié Bar. Aconteceu que uma senhora entrou na lanchonete e após tomar o costumeiro café-com-pão-e-manteiga ou um pão-de-queijo, murmurou:
- Estou muito cansada, com essa chuvinha, até chegar lá no alto do São José, pegar a garrafa d’água e voltar, não vai ser mole não. Mas irei assim mesmo.
O Ilídio, irmão do Cláudio, penalizado com a expressão da dona Maria, aproximou-se e falou, bem sério:
- Debaixo daquela toalha, ali no canto, tem uma torneirinha, com a água de São José. Foi meu avô Ilídinho que mandou canalizar direto da gruta. Caso a senhora queira, pode pegar aí mesmo. A água é filtrada na hora, por isso sai pouco.
A dona aproximou-se, removeu a toalha descobrindo a torneira, bebeu um pouco da água, quando então disse:
- Olha!!! É mesmo!!! É igualzinha à outra!!! Eu posso encher a garrafa?
O Ilídio respondeu:
- Pode, mas não “espalha” não.
Na quarta feira seguinte, a dona apareceu acompanhada de outras senhoras e após o lanche perguntou se podia pegar da água de São José. Com a permissão dada, uma a uma e algumas crianças encheram suas garrafas e ao se despedirem todas diziam:
- Deus lhe pague meu filho!!!
- Amém! Voltem sempre!, exclamava o Ilídio.
A vizinha Dora Araújo, nossa amiga e de minha irmã Irany, não sei como, ficou sabendo da história e, cansada de dar água às pessoas que lhe batiam à porta solicitando um copo d’água, livrou-se desse trabalho: passou a encaminhar os pedintes para o Soié Bar. Recomendava:
-Lá, a água é da gruta!
Nota 1 - A romaria à gruta de São José ocorre até hoje. No Soié Bar, só terminou quando as atividades comerciais foram encerradas.
Nota 2 - Atualmente, alugo o cômodo em que funcionava o Soié Bar para uma loja da Telemig Celular, cujo proprietário é José Vitorino, filho do meu grande amigo e pintor José Assunção, de saudosa memória.
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