PARECE QUE FOI ONTEM
Parece até que tudo aconteceu ontem, de tão vivas as lembranças dos acontecimentos da vida de meus filhos.
Já contei, aqui, aventuras do Ilídio (aqui também), da Sheila, do Clóvis, do Jaques, etc. Hoje, minha memória se inundou de fatos pitorescos protagonizados pelo meu primogênito Cláudio, do PrasCabeças. Pois ele, também, já fez coisas do Arco da Velha!
Vejam alguns:Já contei, aqui, aventuras do Ilídio (aqui também), da Sheila, do Clóvis, do Jaques, etc. Hoje, minha memória se inundou de fatos pitorescos protagonizados pelo meu primogênito Cláudio, do PrasCabeças. Pois ele, também, já fez coisas do Arco da Velha!
Em 20 de outubro de 1953, faleceu aos 95 anos de idade, minha avó paterna, Leopoldina Maria das Neves, prima de Dom Baeta Neves, cardeal metropolitano de São Paulo.
O velório estava sendo preparado na casa de meu tio João Serapião Costa, vovô do poeta Joãozinho Lenjob.
De acordo com a tradição, os familiares estavam armando uma coroa de flores.
No momento de fixar as flores, necessitou-se de barbante para amarra-las. Na casa de meu tio não havia barbante algum. O Cláudio, com menos de 4 anos de idade, garoto muito esperto, saudável e inteligente, não deixou por menos:
- Na oficina do papai tem barbante, vou buscar.
Desceu pela escada e, em desabalada carreira cobriu dois quarteirões até minha oficina de seleiro. Em poucos minutos estava de volta, exibindo, vitorioso, um rolo de barbante. Algumas pessoas presentes, inclusive o meu tio João Serapião, começaram a elogiar a vivacidade do meu filho, dizendo que ele era um menino muito bom, inteligente, prestativo.
- Continue assim, Cláudio, você resolveu tudo em menos de 10 minutos. Não sabíamos como fazer. Parabéns!
O Cláudio, embevecido pelos elogios, disse:
- Pois é, todas as vezes que morrer alguém aqui, é só falar comigo e eu trago o barbante.
Minha mãe, Eutargina Martins Batista, fabricava geléia de mocotó.
Que geléia gostosa! Muitos comerciantes daqui de Nova Era compravam o produto para vender a varejo em seus estabelecimentos. Toda semana, levava para a cidade de João Monlevade alguns quilos da geléia ao armazém do Antônio Géo, o qual fazia o pagamento no fim de cada mês.
Nós não tínhamos carro, a viagem era de trem, pela Estrada de Ferro Central do Brasil, a Maria Fumaça. O percurso durava pouco mais de uma hora. Muitas vezes, minha mãe levava o neto Cláudio. É claro que ele adorava o passeio. Ocupava sempre a poltrona da janela do vagão de passageiros, enquanto seus olhos vivazes varriam a paisagem; cachoeiras, ilhotas e corredeiras do rio Piracicaba, vales e montanhas, pastos habitados pelo gado que pastava. Vez por outra, assustava-se com as vigas de aço dos pontilhões, que passavam rente aos vagões.
Era, além de tudo, uma oportunidade para se encontrar com os primos Wagner e Wander. O meu irmão Diló residia em Monlevade. Se automóvel já aguardava a mamãe e o neto na Estação.
Certa vez, uma costureira, amiga e vizinha, pediu à mamãe que levasse uma caixa contendo vestido, véu e grinalda, para uma noiva que se casaria no dia seguinte.
Aconteceu que Diló não estava na Estação no momento da chegada do trem. Minha mãe, então, teria de caminhar um bom pedaço, e pediu ao Cláudio que carregasse a caixa.
Prontamente, meu filho atendeu ao pedido, abraçou o pacote e acompanhou a avó. O sol tinia sobre a calçada, em pleno meio-dia. Após 10 minutos de caminhada, o menino colocou a caixa no chão, assentou em cima e disse:
- Oi vovó, não agüento mais, meus braços e as pernas estão doendo demais. Estou muito cansado.
- É ali pertinho! Vamos, menino!
- Não agüento vovó! Não agüento mesmo!
E permaneceu assentado sobre a caixa, disposto a ficar ali o resto do dia.
Minha mãe não sabia o que fazer! Que situação!
Mais uns 3 minutos e chega o Diló com o carro. Foi recebido com indescritível alegria, não só por causa da providencial carona, mas principalmente porque trazia os primos Wagner e Wander.
Mamãe e Cláudio voltaram outras vezes a Monlevade sem anormalidades. Mas a história da birra correu de boca em boca.
No período de férias escolares, Cláudio recebia a visita de seus primos Wagner e Wander. Que amizade sincera! Entretanto, eu e Aparecida teríamos de ser vigilantes por causa das peraltices dos garotos.
Não posso deixar de esclarecer que, embora o Clóvis tivesse a mesma idade do Wander, participava pouco das brincadeiras, suas amizades eram com outros meninos.
Os três assaltavam quintais e casas,
Faziam caretas aos vizinhos.
Os três anjos sem asas.
Eram demônios sem rabinhos.
Quebravam louças, matavam pintos,
Tomavam conta do terreiro.
Os três anjos sem asas,
Eram uns capetas verdadeiros.
Faziam caretas aos vizinhos.
Os três anjos sem asas.
Eram demônios sem rabinhos.
Quebravam louças, matavam pintos,
Tomavam conta do terreiro.
Os três anjos sem asas,
Eram uns capetas verdadeiros.
Essas duas estrofes são recordações de meu preferido livro de poesias, lá pela década de 1930, século passado.
Os 3 amigos, jamais procederam como na poesia. Não sei porque me lembrei do livro. Essa minha cabeça...
No quintal de nossa casa, havia algumas árvores frutíferas. Dentre elas, um mamoeiro com apenas um metro e meio de altura, plantado pertinho da cerca que dividia nosso quintal com o terreno do vizinho, pelos fundos. O mamoeiro de raça nanica, já em floração, daria frutos grandes, enormes.
Certo dia, com o auxilio de uma cavadeira, os garotos fizeram uma cova com cerca de 30 centímetros de profundidade perto da porta da cozinha, ato contínuo, com um serrote, cortaram o tronco do mamoeiro, uns 30 centímetros acima do solo e o plantaram na cova, ali perto da cozinha.
Todo orgulhoso, Cláudio chega ao meu lado e diz:
- Papai vem ver o que fiz, olhaqui.
Puxando-me pela mão, aponta o “transplante” que fizera, explicando que, assim, ficaria mais fácil se colherem os frutos. Wagner e Wander acrescentaram:
- Nós ajudamos titio...nós ajudamos, não ficou bom?
Respondi:
- Ficou muito bom, mesmo. O trabalho de vocês está muito caprichado, mas acontece que nenhuma árvore vive sem as raízes, são as raízes que sugam a água para alimentar o tronco, os ramos, as folhas e frutos. Vocês acabaram de matar uma árvore, o mamoeiro.
- Então, papai, disse o Cláudio, vamos plantar outra mudinha?
- Vamos, sim, meninos, vamos logo.
<< Home