Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

quinta-feira, março 31, 2011

TIRO AO ALVO

T I R O  A O  A L V O

Todos nós precisamos de um pequeno descanso e, como não sou de ferro, resolvi passar uma temporada nas cercanias de Belo Horizonte, a linda capital de todos os mineiros. Como é linda!

Na Casa Salles, loja belorizontina especializada em armas e munições, comprei pequena espingarda, os cartuchos, a pólvora e chumbo dos tipos grosso e fino para dar alguns tirinhos em alvo móvel. É claro que registrei o meu pequeno fuzil na Delegacia de Armas e Munições, pois não sou muito bobo e respeito leis.

Ao anoitecer, eu e minha eterna namorada, Aparecida, chegamos à Serra da Moeda, onde nos hospedamos no chalé de meu filho Clóvis.

Lá pelas tantas da noite, após o banho, fomos dormir para o merecido descanso.

Pela manhã, saímos para um passeio no campo. Levei arma ao ombro e munição a tiracolo. Sentimos um agradabilíssimo perfume de flores variadas e admiramos centenas de lindos e coloridos colibris a esvoaçar de flor em flor, sugando o delicioso néctar. Dúzias de borboletas, em espetáculo silencioso, dançavam surpreendente e levíssimo balé.


Preparei, então, a arma, abastecendo-a de um cartucho carregado com chumbo tipo mostarda, aquele fininho.

Mirei os beija-flores e...  pimba! Muitos fugiram, outros caíram sobre a relva.

Buscamos o caminho açude, em cujas águas se banhavam peixinhos dourados, lambaris, tilápias e carpas preguiçosas. À margem, sete tartaruguinhas se aqueciam sobre uma pedra lisa, talvez em dúvida se deveriam ou não lançar-se numa aventura aquática.

Não pensei duas vezes. Mais um cartucho no fuzil e... pimba! Imediatamente o improvisado trampolim se transformou numa lápide, repouso eterno para sete tartaruguinhas recém-nascidas! Pensei: “Adeus, quelônios!”

Pouco além, seguimos por um aclive suave, em busca da sombra de frondoso jatobá. Era imenso, com suas folhas verde-escuras. Pena que não era época dos frutos, de casca duríssima, porém deliciosos. 


Meu olhar alcançou um casal de joão-de-barro, que me observavam na soleira de sua casa.
Ao estampido do tiro seguiu-se um duplo baque, assinalando aos meus pés que tenho, modéstia à parte, ótima pontaria.
Minha eterna namorada recolheu mais aqueles bichinhos, juntando-os às tartaruguinhas e beija-flores que jaziam no fundo de uma sacola.

Retornamos ao chalé.

Alguém que ouvira tiros telefonara à polícia e já nos aguardava um jovem policial.  Nem bem chegamos, o meganha me interroga:
- O delegado me mandou aqui porque o senhor estava dando uns tiros. O que é que aconteceu?
- Apenas matei vinte beija-flores com um tiro só, respondi com naturalidade.
- Não acredito, retrucou admirado.
Então gritei:
- Aparecida, traga as vinte cabecinhas dos passarinhos pro inspetor ver!

Enquanto minha eterna namorada apresentava um amontoado de penas, o inspetor já lavrava a ocorrência:
- E o senhor matou mais algum animal?
- Aparecida, mostra as sete tartaruguinhas que matei com um único tiro!

Enquanto examinava os restos mortais dos minúsculos quelônios, espichou os olhos pro embornal:
- Ah, disse eu, tem aqui mais um casal de joão-de-barro, que matei com um tiro só, de uma única vezada!

Indignado, o policial levanta a voz e quase berra:
- E não veio nenhum inspetor aqui? Isso é desrespeito à natureza!
Com voz mansa, quase que pedindo desculpas, explico:
- Até que topamos com um outro guarda...
E voltando-me para Aparecida:
- Pegue ali a cabeça daquele inspetor que veio reclamar. Vamos mostrar aqui pro guarda.

Guardando a papelada, o jovem me estende a mão:
- Não é necessário, senhor. Não precisa, senhora. Já está tudo esclarecido, e tenho de voltar à delegacia!

Sem olhar para trás, saiu em desabalada carreira, como se diz. Nunca mais foi visto pelas bandas da Serra da Moeda.


Pois é, hoje é 1º de abril... e nada como uma boa história para pegar os incautos.
Em tempo: respeite e preserve a Natureza!

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terça-feira, fevereiro 20, 2007

NOVO ONTEM E HOJE

Amigos leitores: pedi ao meu filho Cláudio que fizesse a migração para o Blogger-2. Aconteceu que tudo do Ontem e Hoje foi parar na conta dele (do Google).

Então, a partir de agora o link para meu blog é:



O nome a aparecer no cabeçalho é: ONTEM&HOJE.

Tudo muda... mas fica tudo igual.

Quero continuar a merecer a visita e comentários de todos. Abraços do SOIÉ.

Carnaval Novaerense: Bico do Urubu

Já estamos na terça-feira de carnaval! Nesta oportunidade, conto para meus grandes amigos blogueiros um acontecimento ocorrido na década de 70.

O famoso bloco sujo, "Bico do Urubu", era ansiosamente esperado por todos.

Cristina, Berenice, Maria Rosa Aguiar, hoje residente em Brasília, Joaquim, Roberto, Yolanda, saem à rua e acompanham o afamado "Bico do Urubu".

Poucos minutos são passados e uma multidão de curiosos está nas calçadas para aplaudir e brincar.

Todos vibram. A coisa mais original é que participantes do bloco são do sexo feminino, sem exceção. (Naquela época, um bloco feminista, vejam só!)

As mulheres cobrem todo o corpo, capuz vermelho, meias e sandálias pretas.

É impossível distinguir quem é quem. As fantasias são de arrepiar. Tem gente vestido de vampiro, alma penada, Zé-da-meia-noite, fantasma, caveira e tudo mais que se possa imaginar. A meninada é que passa aperto: as crianças ficam entre a curiosidade e o temor, porque aquelas figuras do outro mundo as ameaçam, correm como se quisessem pegá-las, provocam sustos. Mas é a maior festa!

Ah! Os adultos. Os adultos aproveitam e caem na folia, que delicia!

As figurantes também aproveitam que os seus rostos estejam cobertos e partem para cima dos rapazes, jogam beijinhos e passam a mão no rosto deles. Algumas arranjam até namorados! Sei de um caso que deu até em casamento.

Por falar em casamento, um filho meu, Cláudio, do blog Pras Cabeças, deu bobeira e ficou à espera de um brotinho cair na rede. De repente, olha lá o Cláudio também na folia.

Pulando, brincado com uma garota toda vestida de preto, capuz vermelho com três furos, dois nos olhos e um na boca. Até luvas pretas ela usava.

Cláudio se aproxima do amigo Cardoso, ex-colega de escola, que estava perto de Jorge de Manezinho, hoje despachante, e fala:

- Grampeei aquela garota ali, hoje é sopa.

Voltou com a menina para o bloco e pulou bem agarradinho à sua presa.

Após o desfile, o Cláudio se oferece para acompanhá-la até à casa. No meio do caminho, diz a ela:

- Belezoca, bem que você poderia tirar o capuz.

- Ah! não! Não quero me revelar, você não irá gostar de mim.

- Deixa disso, amor, eu estou apaixonado, faz muito tempo que estou a fim de te paquerar.

- Ah! Você não me conhece, nunca me viu antes.

- Deixa disso amor, você acha que se eu não soubesse quem você é, estaria aqui agora?

Com tanta insistência, a belezoca resolveu tirar o capuz e quando Cláudio viu quem era, começou a correr e cuspir igual bode e dizendo palavrões. Ela era feia, banguela, cicatriz no rosto, cabelo pixaim, kkkkkk!

Novos tempos no carnaval de Nova Era: ninguém mais usa máscara. Apesar de cidade do interior, aqui os hotéis estão quase lotados.

Como no Rio de Janeiro, aqui também temos uma "Avenida Copacabana", que margeia o Rio Piracicaba. Nada que se compare àquela cidade, mas tudo está muito bem ornamentado. Há até camarotes para quem quiser assistir aos desfiles e blocos! Para beber e comer, erguem-se barraquinhas, uma imensa área coberta para bar. Para o serviço de sonorização há um palanque. Ao contrário de outros tempos, tudo isso não fica mais no centro, mas num local mais afastado, perto da ponte pênsil (bairro Sagrada Família, para quem conhece). A animação é total.

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Quanto à história narrada, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Não é isso que colocam nos filmes?

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

CURIOSIDADE


Achei muito oportuno o texto abaixo, vejam:


Nos Alpes italianos, existia um pequeno vilarejo que se dedicava ao

cultivo de uvas para produção de vinho.

Uma vez por ano, após a produção do vinho ocorria uma festa para

comemorar o sucesso da colheita.

A tradição exigia que, nesta festa, cada morador do vilarejo trouxesse

uma garrafa do seu melhor vinho, para colocar dentro de um grande barril

que ficava na parte central. Era esse vinho coletivo que seria consumido

durante a festa. Entretanto um dos moradores pensou:

"Por que levar um garrafa do meu mais puro vinho? Levarei uma cheia de água, pois no meio de tanto vinho, o meu não fará falta".

Assim pensou e fez. No auge dos acontecimentos, como era de costume, todos se reuniram na praça, cada um com sua caneca, para pegar uma porção daquele vinho cuja fama corria longe, se estendendo além das fronteiras daquele país. Contudo ao se abrir a torneira do barril, um silêncio tomou conta da multidão.

Daquele barril saiu apenas água. Como isso aconteceu?

Aconteceu que todos pensaram como aquele morador: "A ausência de minha parte não fará falta".

Somos muitas vezes conduzidos a pensar: "Tantas pessoas existem neste mundo que, se eu não fizer a minha parte, isto não terá importância".

(Autor desconhecido). Publicado no jornal,

O Paroquiano - Nova Era-MG - de março de 2006

domingo, dezembro 31, 2006

Na Estrada


Amigos e amigas: li esta crônica no jornal O Paroquiano, daqui de Nova Era. Compartilho com vocês. Feliz Ano Novo para todos.
Ver a visão...
Pediu para sentar ao meu lado. “Queria ver a visão”, entendi que queria ver a paisagem que se espalhava deslumbrante á nossa volta. Um infinito de árvores, e verdes como na roça. Ele preferiu a roça à rua. Queria viver na roça, mas não podia.
Tentei continuar a leitura, mas insistiu tanto na conversa que desisti e me rendi às suas palavras. Queria conversar, estava claro. Pelo menos ser ouvido. E, nesses momentos, esquecer a solidão em que nos encontrávamos para descobrir o mundo fabuloso de histórias e idéias de pessoas comuns.

Era conhecido em sua cidade, fora candidato nas últimas eleições e, apesar de não ser eleito, via na política um futuro certo. Munido de frases de efeito e temas pouco originais. Seguia fazendo propaganda divulgando suas intenções. E para continuar na campanha precisou de ajuda. Ai começou toda a sua adversidade.
Rua Dália, bairro com nome de jardim. Uma pequena casa, uma família. O candidato a vereador e seu fiel escudeiro motorista, resolvedor de problemas, destruidor de lares. Freqüentava sua casa e até abria geladeira. (sinal de máxima intimidade que pode haver entre uma visita e seus anfitriões). Era um verdadeiro amigo, sabia de tudo que acontecia naquela família, principalmente com a mulher. E a intimidade era tanta que se tornou amigo da esposa.
Um dia ela começou a brigar a toa e do nada disse que queria ir embora. Marido e filhas não compreenderam. A mulher enlouquecera? Queria partir, Estava cansada, etc. e tal. Esses discursos femininos que conhecemos muito bem.
Ah, mulheres e nossas histórias...
Veio a separação. Nada no papel. Ela se foi. Ele sofreu, e como sofreu!
Dias depois a notícia soube que mulher estava morando com o amigo, o fiel escudeiro e motorista que abria a geladeira e sabia dos problemas da família.
Rua Margarida, uma casa pequena, dois amantes felizes. Dois traidores. Dois destruidores de lares e de carreira política. Uma vida destruída.
Duplamente traído, aquele homem que agora me contava sua história com visível serenidade, confessou o ódio que sentiu. Tinha vontade de matá-los. Jurou por DEUS que queria matá-los. Deixou a Igreja Evangélica. Começou a beber. A cachaça é alívio da alma, a solução para todas as dores.
O pior é que ele ainda a amava, meu DEUS, como a amava, dava pra ver em seus olhos à vontade de ver de novo aquela mulher; velha, feia, cheia de doenças e dores, mas ele a queria assim mesmo. Ainda espera pelo dia em que ela virá lhe pedir perdão, querendo voltar para casa que abandonou por uma loucura, por uma paixão qualquer.
O que ele faria? Perguntei, o silêncio aumentara o seu talento de compositor.
Por alguns longos minutos ouvi declamação de letras de músicas sertanejas compostas por ele mesmo, o marido traído. Como a dor de cotovelo é a principal fonte de inspiração de canções românticas, posso dizer que inspirado ele - o marido traído - estava! E acreditava tanto em si e em suas dores que confessou o objetivo de vender suas letras para uma dupla de cantores famosos. Dizia que seria um sucesso, que logo suas músicas cairiam no gosto popular, afinal de contas ele falava de coisas que muitas pessoas sentiam. Ele falava de amor.

Pensava também gravar um CD. Sabia que não era muito fácil; precisava de algum dinheiro para contratar músicos. Mas o faria. Recitou mais alguns versos, despertando risos dos passageiros mais próximos.
Riam da ingenuidade? Da facilidade daquele homem transformar sua tristeza em Sonho? Com seus sessenta e poucos anos, aquele moço que queria viver na roça trazia um infinito de desilusões e esperanças.
Acreditava que seria eleito e a que mulher que ele tanto amava lhe pediria para voltar. E sonhava ouvir suas canções tocando em todas as rádios. Perdera fé na justiça divina, mas sabia que isso não ficaria assim. Ah, isso não.
Deixei-o sozinho seguindo a viagem.
Segui sozinha o meu destino. Sabia que aqueles casos me renderiam uma história.
Quantas poesias há entre a Rua Dália e Margarida, quanta beleza existe naquela dor! Pouco importa se vencerá na próxima eleição, se a traição será vingada, tampouco se as músicas serão sucessos. Pouco importa o nome, a cara, a cidade onde mora.
É um ser humano, como eu, que precisava conversar. Eu nada tinha a ver com aquilo tudo, mas a vida me deu a história de Zé, conhecido como Baiano. Fez-me saber da capacidade humana de sonhar, apesar das desilusões, das dores de pessoas comuns que se tornam heróis de suas próprias aventuras.
Ele me ofereceu um pouco de sua experiência, e eu, um pouco de minha paciência.
Era tudo o que podíamos trocar, e depois disso ficamos vazios: ele, por expor seus sentimentos. Eu, por me calar e ouvir.
E o vazio é o estado necessário da alma, silêncio inicial que antecede a renovação, momento de começar de novo.
O ônibus fez a curva na estrada, distanciando-se, levando com ele centenas de histórias, casos de amor, traições e desejos.
Histórias guardadas no silêncio da viagem. Sonhos jogados nas paisagens das estradas. Corações cheios de vontade. Almas precisando do vazio.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

E A MARÉ SUBINDO! SUBINDO!

Agora que as férias estão chegando, vou relembrar aqui um post que fiz há mais de um ano:

Gosto de fazer turismo, mas sempre junto a minha eterna namorada, a Aparecida.

Lembro-me de que, há bem pouco tempo, nós dois e a turma da melhor idade, todos residentes aqui em Nova Era, participamos de uma viagem muito agradável. Desde o início do passeio, tínhamos a assistência de um guia da empresa de turismo local.

Foi à tarde que um ônibus leito partiu de nossa cidade rumo a Porto Seguro-BA.

Viajamos durante toda a noite, com as tradicionais paradas em restaurantes. Já pela manhã, chegamos ao Hotel previamente reservado. Esperava-nos um cicerone muito atencioso que passou a nos guiar.

A estadia foi ótima. Esteve sempre à nossa disposição um ônibus para os passeios: visitamos pontos turísticos, praias, ilhas, etc... Foi assim que ficamos conhecendo lugares pitorescos e algumas praias famosas.

Mineiro, quando vai ao litoral, só quer saber de praia! Cada praia melhor que a outra: todas com muita areia, muita água e muita xxxxxx bonita.

Certa tarde, após um relaxante banho no hotel, foi servido o jantar, como de costume. A noite seria livre. Combinamos, então, conhecer a famosa passarela do álcool, onde chegamos mais ou menos às 21 horas. Bebemos alguns aperitivos, acompanhados dos tradicionais salgadinhos da região. A temperatura era ligeiramente fria, por isso, em atenção ao nosso companheiro de mesa, solicitei um prato quente. A garçonete caprichou!!! Nunca mais comerei prato quente na Bahia, morou?

Gostei muito das músicas apresentadas pela banda que dava mais vida ao ambiente. Foi uma noite inesquecível...

No dia seguinte, saímos para uma visita à Coroa Alta. O “programa de atividades” anunciava que poderíamos alimentar peixinhos dourados, prateados, vermelhos, etc. Levaríamos migalhas de pão e eles nadariam até bem próximo de nossas mãos para comer.

Coroa Alta, não sei se conhecem, é uma ilha localizada 10 quilômetros mar adentro.

Embarcamos numa escuna e logo vestimos o indispensável salva-vidas. Ocupamos nossos lugares e alegres cantávamos músicas da região, fazendo coro a um grupo folclórico presente.

A lotação era completa, pois turistas de outros lugares também embarcaram com o mesmo fim.

Após uns trinta minutos de viagem, tivemos uma surpresa bem desagradável: a escuna encalhou em um banco de areia e por pouco não virou de lado. Por diversas vezes, o Comandante, com a força dos motores, tentou desencalhar, sem êxito. Até que a maré começou a subir: aí sim, navegamos. Para tirar o atraso, o piloto aumentou a velocidade rumo à ilhota. Era, realmente, uma ilha bem pequena, quase que só de areia.

Caminhamos por ali até alcançarmos o outro lado, pisando em corais escorregadios, a água na altura do tornozelo, em busca dos tais peixinhos. Com sinceridade, os bichinhos eram maravilhosos, lindos, vinham comer em nossas mãos.

Ao retornar para a escuna que nos aguardava ancorada em seu ponto, notamos que a água estava na altura dos nossos joelhos e a ilhota cada vez mais longe. A maré subia!

O mar chegou em nossos quadris e rapidamente atingiu a cintura. Houve um principio de pânico, pois a maré subia e subia, sem parar.

Todos já temíamos morrer afogados, apavorados! De repente, como que por encanto, surgiram quatro canoas grandes e seus remadores nos tiraram da água! Com varas apropriadas empurraram as canoas para as areias ainda visíveis da pequena ilha.

Foram momentos de grande sofrimento para todos. Felizmente, estávamos sãos e salvos.

Conseguimos embarcar para uma viagem de volta sem problemas.

Adorei a Bahia, aonde pretendo voltar outras vezes para ver o que é que a BAIANA tem.

Alguém sabe? Quem souber, que me diga!

quarta-feira, novembro 08, 2006

Uma fábula das mil-e-uma-noites

O LIVRO DO DESTINO

(Malba Tahan)

Certa vez - ha muitos anos - quando voltava de Bagdá, onde fôra vender uma grande partida de peles e tapetes, encontrei num caravançá, (abrigo, refúgio) perto de Damasco um velho árabe de Hedjaz que me chamou de certo modo a atenção. Falava agitado com os mercadores e peregrinos, gesticulando e praguejando sem cessar: fumava constantemente uma mistura forte de fumo e hasehieh e quando ouvia de um dos companheiros uma censura qualquer exclamava apertando entre as mãos o turbante esfarrapado:

- Mae Allah! Ó mulçumano! (Por Deus) Eu já fui poderoso ! Eu já tive o Destino nesta mão!

- É um pobre diabo - Diziam. - Não regula bem do miolo! Allah que o proteja!

- Eu, porém, confesso - sentia irresistível atração pelo desconhecido do turbante esfarrapado. Procurei aproximar-me dele discretamente falei-lhe com brandura e ao fim de algumas horas já havia captado inteiramente a confiança.

- Os homens da caravana me tomavam por doido - ele me disse uma noite quando cavaqueávamos a sós. Não querem acreditar que já tive nas mãos o destino da humanidade inteira. Sim, senhor: o destino do gênero humano!

Esbugalhei os olhos assombrados.

Aquela afirmação insistente de que havia sido senhor do Destino, era característica de seu pobre estado de demência.

O desconhecido, porém, que parecia não perceber os meus sustos e desconfiança, continuou:

- Segundo ensina o Alcorão - o livro de Allah - a vida de todos nós está escrita - maktub ! - por Deus no grande "Livro do Destino". Cada homem tem lá a sua página com tudo o que de bom ou de mau lhe acontecer.

Todos os fatos que ocorrem na terra desde o cair de uma folha seca até a morte de um Califa, estão escritos - estão fatalmente escritos - no livro do Destino!

E sem esperar que o interrogasse continuou:

- Salvei das mãos do cheique Abu Dolak, depois de uma "razziz" (Ataque de beduínos) terrível que esse impiedoso beduíno fizera num acampamento da tribo dos Moriebes, um velho feiticeiro que ia ser enforcado.

Esse feiticeiro, em sinal de gratidão, deu-me um talismã raríssimo que possuía uma pedra negra, pequenina em forma de coração, encontrada, anos antes, dentro de um túmulo de um santo muçulmano. E essa pedra maravilhosa permitia a entrada livre na famosa gruta da Fatalidade, onde se acha - pela vontade de Allah -.

Viajei longos anos até o alto da montanha de Masirah, para além do deserto de Danna, afim chegar á gruta encantada. Um "djin", gênio bondoso que estava de sentinela à porta deixou-me entrar, avisando-me, porém, que só poderia permanecer na gruta por espaço de poucos minutos. Era minha intenção alterar o que estava escrito na página da minha vida e fazer de mim um homem rico e feliz. Bastava acrescentar com a pena que eu já levava. - "será um homem feliz, estimado por todos, terá muita saúde e muito dinheiro!”. Lembrei-me porém de meus inimigos. Poderia, naquele momento fazer grande mal a todos eles. Movido pela idéia única do ódio e vingança, procurei a página de Ali Ben-Homed, o mercador. Li o que ia acontecer a esse meu rival e acrescentei em baixo, sem hesitar, cheio de rancor: - "morrerá pobre, sofrendo os maiores tormentos!” Na página de Zalfah el-Abari escrevi, impiedoso, alterando-lhe a vida inteira: “Perderá todos os haveres, ficará cedo e morrerá de fome e sede no deserto”!

- E na tua vida? Indaguei curioso. - Que fizestes, ó muçulmano na página, em que estava escrito a tua própria existência?

- Ah! Meu amigo! Prosseguiu o desconhecido cheio de mágoa. Nada fiz em meu favor. Preocupado em fazer mal aos outros, esqueci de fazer bem a mim próprio. Semeei largamente o infortúnio e a dor, não colhi a menor parcela de felicidade. Quando lembrei de mim, quando pensei em tornar feliz a minha vida, estava terminado o meu tempo. Surgiu-me sem que eu esperasse, pela frente, um "effrit" (gênio feroz) que me agarrou fortemente e depois de arrancar-me das mãos o talismã me atirou fora da gruta. Caí entre pedras e com a violência do choque perdi os sentidos. Quando recuperei a razão, achei-me ferido e faminto, muito longe da gruta, junto a um oásis do deserto de Oman. Sem o talismã precioso nunca mais pude descobrir o caminho da gruta encantada das montanhas de Massirah!

E concluiu entre suspiros cheios de tristeza: Perdi a única oportunidade de ser rico e feliz!

Seria verdadeira essa estranha aventura?

Até hoje ignoro. O certo é que o triste caso do velho Hdjhaz encerrava um grande ensinamento. Quantos homens há no mundo que, preocupados em fazer o mal a seus semelhantes, se esquecem do bem que podem fazer a si próprios.

domingo, outubro 01, 2006

ERA UMA VEZ...

HISTÓRIAS QUE MAMÃE CONTAVA:

A FLOR DA HONESTIDADE


Conta-se que, por volta do ano 250 antes de Cristo, na China antiga, um príncipe da região norte do país está ás vésperas de ser coroado Imperador. Antes, porém, de acordo com a Lei, ele deveria se casar.

Por isso, resolveu fazer uma “disputa” entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua proposta.

O príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes às quais proporia um desafio.

Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos; ouvindo os comentários sobre os preparativos, ficou surpresa, pois sabia que sua jovem filha nutria um profundo amor pelo jovem príncipe. Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao saber que ela pretendia ir a celebração. Incrédula, indagou:

- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as belas e ricas moças da corte! Afaste de sua mente essa idéia insensata. Compreendo que você esteja sofrendo, mas não transforme esse sofrimento em loucura.

Ao que a filha respondeu:

- Não, minha mãe, não estou sofrendo; e muito menos estou louca. Bem sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha única oportunidade de ficar pelo menos alguns minutos perto do príncipe; isto já me torna feliz.

À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as belas moças com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais determinadas intenções. Então, finalmente, o príncipe anunciou o desafio:

- Darei uma semente a cada uma de vocês. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e se tornará a Imperatriz da China.

A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo que valoriza muito a especialidade de “cultivar” algo, sejam costumes, amizades, relacionamentos, etc.

O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que, se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisaria se preocupar com o resultado.

Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia brotado. Dia após dia, ela percebia que seu sonho ficava cada vez mais longe. E seu amor, cada vez mais profundo.

Mais seis meses se passaram.

Consciente de seu amor e de sua dedicação, a moça comunicou à mãe que, apesar das circunstâncias, retornaria ao palácio na hora e data combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos em companhia do príncipe.

Apresentou-se, pois, com o vaso sem flor, ao lado de todas as outras pretendentes, lindíssimas, cada qual com uma flor mais bela que as outras, das mais belas e variadas cores. Ela estava maravilhada, nunca tinha presenciado tão bela cena.

Finalmente chega o momento da escolha e o príncipe observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a portadora do vaso sem flor como sua futura esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém poderia compreender porque ele havia escolhido aquela que nada havia cultivado. Então, calmamente, o príncipe esclareceu:

- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.

A honestidade é como uma flor tecida em fios de luz que ilumina quem a cultivou e espalha claridade em redor

Que esta história nos sirva de lição e, independente de tudo e todas as situações vergonhosas que nos rodeiam, possamos ser luz para aqueles que nos cercam.