Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

quinta-feira, abril 13, 2006

Porco ou suíno?

Um fato pitoresco aconteceu na década de 70, na estação da Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB), aqui em Nova Era(MG).

Personagens:
  • Aroldo, irmão de minha eterna namorada Aparecida;
  • João Jacinto, primo de um outro amigo lá de Brasília;
  • Rogério Muniz Neto e
  • Porco/Suíno.
Os trens de passageiros da Estrada de Ferro Vitória a Minas (da CVRD - Compania Vale do Rio Doce) tinham como ponto final a estação da Central do Brasil em Nova Era. Aqui acontecia o que chamávamos de "baldeação", quando todos os passageiros que vinham do Espírito Santo passavam para os vagões da EFCB e seguiam viagem para Belo Horizonte.

Naquela época, as ferrovias eram um meio de transporte muitíssimo utilizado por passageiros e para carga (o que deveria acontecer até hoje, caso os governos tivessem um pouco de inteligência: ferrovia é mais barato, mais seguro, transporta mais carga por viagem, etc. - mas isso é outra história).

Por isso, os trens de passageiros puxavam um vagão no qual tudo era transportado, desde pequenos volumes, correspondências, caixotes, jornais, maquinário e, imaginem, pequenos e grandes animais!

Aroldo, irmão de Aparecida, era funcionário da CVRD em Coronel Fabriciano. Uma de suas tarefas consistia em despachar os volumes que não podiam seguir junto aos passageiros. Um dia, despachou para João Monlevade dois suínos - foi esta a palavra utilizada no documento. Isso significava que os bichos deveriam sofrer uma "baldeação" em Nova Era.

João Jacinto, da Central do Brasil, ao conferir a papelada e as bagagens, achou que havia uma irregularidade e anotou no rodapé da folha de despacho o seguinte:

"Ao fazer a conferência dos despachos, constatei a falta de dois suínos e a sobra de dois porcos, estes sem a devida documentação."

Naquela época, eu ainda era funcionário dos Correios e Telégrafos e fazia a triagem das correspondências na estação férrea.

Fui, então, abordado pelo amigo João Jacinto que me apresentou seu relatório e solicitou-me que assinasse como testemunha.

Quase não acreditei no que li, mas diante de seu semblante compenetrado, resolvi intervir.

Com delicadeza - este é meu feitio - expliquei-lhe:

- Não se preocupe, amigo, pode embarcar os animais. Porco ou suíno é a mesma coisa.

E ele, entre duvidoso e agradecido:

- Anh... é mesmo?

______ ))) o0o ((( ______

Os porcos - ou suínos - viajaram tranqüilos e indiferentes ao seu destino e à confusão. Devem ter servido para algum churrasco, comida de domingo ou, quem sabe, deles foi feita uma deliciosa linguiça... Talvez até recebessem outro nome: "leitoa" assada!

[Se o meu neto, Ângelo, já quase veterinário, estivesse por perto, poderia nos dar uma aula sobre isso...]

sábado, abril 01, 2006

LUA DE MEL E UM PASSEIO DE CHARRETE

Em diversas oportunidades, escrevo algo sobre o meu ótimo relacionamento com a minha eterna namorada Aparecida.

Hoje contarei um fato ocorrido em junho de 1948, por ocasião de nossa Lua-de-Mel.


Um pouco antes do enlace matrimonial, combinamos passar uns dias em ARAXÁ-MG, conhecida por suas fontes curativas e até milagrosas. É a cidade da encantadora Dona Beja, a bela mulher que se banhava nas águas sulfurosas, e está localizada a mais de 350 quilômetros de Belo Horizonte.


O casamento religioso foi à tarde. Após as festividades, lá pelas 22 horas, embarcamos pelo trem noturno da E.F.C. do Brasil com destino a Belo Horizonte, onde desembarcamos pela madrugada do dia 06/06. Um táxi nos levou rapidamente à rodoviária que, na época, ficava bem ao lado da Feira Permanente de Amostras, onde funcionava a P-R-I 3, Radio Inconfidência de Belo Horizonte, Minas Gerais.

A passos largos, nos encaminhamos ao guichê, onde comprei os bilhetes da segunda parte da viagem, ou seja, para Araxá.

Sessenta minutos de espera não tiraram o nosso bom humor, enquanto observávamos o intenso movimento de viajantes que chegavam ou partiam.


Adentramos em uma lanchonete muito legal, com mesas cobertas de toalhas bem limpinhas, onde degustamos um delicioso café, acompanhado de broa-de-fubá recheada com queijo, salpicada com açúcar e canela em pó.


Finalmente, chegou o horário da partida. Após recebermos o comprovante de entrega da bagagem - que sempre esteve sobre nossa vigilância - nos acomodamos nas poltronas.


A viagem foi normal, fora um pneu furado e o atropelamento de um cavalo que estava atravessando a pista. Felizmente chegamos a sem maiores conseqüências.


Desembarcamos na rodoviária local, pegamos um táxi direto ao hotel previamente reservado, cujo nome permanece na memória até hoje: GRANDE HOTEL DE ARAXÁ . Grande e luxuoso.


Estávamos exaustos pela demorada viagem de mais de 24 horas. Após desfazer as malas e colocar as roupas nos cabides, Aparecida decidiu tomar um banho refrescante e bem demorado, recuperando as energias gastas. Ao terminar, estirou-se na cama a fim de descansar um pouco.


Entrei no banheiro. Além do banho, resolvi fazer a barba que já havia crescido. Devo ter-me demorado uns 40 minutos ou mais.
Finalmente abri a porta, aproximei-me da cama e constatei que Aparecida já dormia a sono solto.


Rocei as mãos em seus cabelos e ombros, sussurrando algumas palavras em seu ouvido. Em vão, pois o sono era pesado e dormia com uma tranqüilidade de fazer inveja. Entretanto, devido a minha carinhosa insistência, ela acordou, sorriu... não sei mais nada o que aconteceu...

Acordamos já na hora do almoço e nos preparamos para o restaurante. Que almoço gostoso! Foi nosso primeiro almoço de casados.

PASSEIO DE CHARRETE

Não descreverei o que é uma charrete. Charrete de passeio, todos sem a menor dúvida sabem o que é. Não direi que a charrete de passeio é como se fosse uma cabine de carro, por cima de um eixo fixo, duas rodas paralelas, uma de cada lado. Tem dois varais, um de cada lado também. O veículo é de tração animal: um cavalo arreado com selote, mangote, rédeas etc. preso aos varais puxa a charrete a passos lentos, trote ou a galope, conforme o gosto de cada condutor. Em quase todas as charretes, bem ao alcance do condutor, tem um "facão bem afiado" que pode ser usado em algumas emergências.

É comum o cavalo sair a galope. Uma curva, mesmo pouco acentuada, pode provocar o tombamento da charrete, ocasionando acidentes com sérios transtornos para os passageiros.

Aparecida solicitou ao charreteiro que permitisse a ela própria conduzir o veículo. Após algumas perguntas, o homem se convenceu de que ela era competente e lhe passou as rédeas dizendo:

- "Vou aproveitar enquanto vocês se divertem sozinhos". Piscou o olho pra mim e enfatizou: "mais à vontade". "Tomarei um lanche ali naquela confeitaria, de nome "Casa da Beja".

Eu sabia que, antes do nosso casamento, Aparecida sempre conduzia a charrete de seu pai pelas ruas de Nova Era, levando junto as irmãs e amiguinhas, por isso fiquei tranquilo.


Com maestria fustigou o cavalo, que imediatamene obedeceu ao seu comando. Começou devagar e pouco depois trotava pelas alamedas assombreadas que rodeavam o Grande Hotel. Minha jovem esposa, com elegância e segurança, sempre dominando o animal pelas rédeas, proporcionou-nos um passeio romântico!


A VOLTA PARA O PONTO INICIAL


Contornamos na mão de direção em uma pracinha e iniciamos o retorno aos jardins da entrada principal. Parece que o cavalo percebeu que era retorno e começou a galopar. Aparecida puxou as rédeas e gritou: - ÔÔÔA! ÔÔÔA! Mais alguns segundos, o cavalo pára. Minha esposa relaxa o comando e o animal reinicia um trote, mas logo em seguida volta a galopar. Ela estica novamente as rédeas, berrando:
- ÔÔÔA! ÔÔÔA!

Quando o cavalo finalmente obedeceu, minha doce esposa desce, pega o "facão afiado" e, sem que eu conseguisse impedir, corta-lhe as orelhas, sem dó nem piedade! Assustadíssimo e indignado, em voz alta a censurei:
- Isso é covardia, é ignorância, é maldade, não se faz assim com um pobre animal!


Aparecida, cabeça erguida, olhou-me fixamente e soletrou entre os dentes:

- Fique o senhor sabendo que comigo é assim: quero sempre ser atendida logo da primeira vez que falar, pois da segunda vez, não adianta, corto mesmo!


Jamais esqueci essa advertência. Teimar pra quê?


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Hoje é o Dia da Mentira: Tudo que vocês acabam de ler é pura ficção!
Só me resta rir e gritar:


- Peguei vocês: 1° de abril! 1° de abril! Hahahahhaha!