Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

Minha foto
Nome:
Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

sábado, junho 25, 2005

Alerta geral

Aos netos, aos sobrinhos e aos meus inúmeros amigos espalhados

pelo nosso imenso Brasil.

Esse texto é uma publicação do jornal Estado de Minas de
23/06/2005, leiam e reflitam:

Há poucos dias, a Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) re­conheceu o direito de as empresas obterem prova, para ações trabalhistas de justa causa, através do rastreamento de e­-mail de trabalho do empregado.

O re­conhecimento do direito baseou-se na ação envolvendo o HSBC Seguros Brasil e um de seus funcionários, analista de sistemas, que teria utili­zado o correio eletrônico corporativo para envio de fotos de mulheres nuas a colegas de trabalho, gerando problemas na rede do banco, que cul­minaram com o rastreamento e, por conseqüência, com a demissão do empregado.

O julgamento, de um te­ma até então inédito no TST, definiu, por unanimidade, que não houve violação à intimidade e à privacidade. do funcionário e que a prova obtida seria, dessa forma, legal.

Mais do que apenas um julgamen­to trabalhista, a decisão do TST abre um novo tipo de relacionamento en­tre empregador e empregado no que se refere ao uso de informações ele­trônicas.

Até que ponto a empresa tem o direito de rastrear, monitorar e, principalmente, violar a caixa postal de seus funcionários?

Da mesma for­ma, até onde vai o direito de o empre­gado de usar o computador da em­presa para assuntos pessoais?

Como deve ser dividida essa responsabilida­de?

De que forma é feito um monito­ramento na empresa?

Demitido em maio de 2000, o fun­cionário do HSBC obteve, quatro me­ses depois, a anulação da justa causa, porque, para a primeira instância, a inviolabilidade da correspondência teria sido violada. Entretanto, o TRT do Distrito Federal (10a Região) deu, mais tarde, provimento ao recurso do banco julgando lícita a prova ob­tida com a investigação feita no e-­mail do empregado e do próprio pro­vedor -decisão ratificada agora pelo TST.

sexta-feira, junho 10, 2005

DIA DOS NAMORADOS

Este mês de junho é, realmente, um mês muito especial para mim e minha eterna namorada, Aparecida.
Primeiro, porque comemoramos os 57 anos de casamento. São bodas que não têm um nome especial (prata, ouro, diamante...) mas que comemoramos com muita alegria, juntos, aqui nesta pequena Nova Era, escondida entre as montanhas de Minas, debruçada sobre o rio Piracicaba.
Segundo, porque se comemora o Dia dos Namorados. E eu não poderia deixar em branco uma homenagem à minha eterna namorada. Mas, quem me surpreendeu, foi ela, Aparecida, que me traz recordações dos tempos de nosso início de namoro.

Considero a narrativa da Aparecida como um presente, pois as lembranças tão bem guardadas e revividas são prova de amor, não é? Ela se lembra de detalhes, o que me fez lembrar de uma antiga música do Roberto Carlos:
“Detalhes tão pequenos de nós dois / são coisas muito grandes pra esquecer / e a toda hora vão estar presentes...”

Portanto, o relato que vocês vão ler, abaixo, é da Aparecida. Meu trabalho foi o de escrivão: transcrevo o que ela, assentada aqui ao meu lado, vai ditando:

“Logo no início de 1930, meu pai, José Bonifácio, que residia em Abre Campo-MG, veio trabalhar como marceneiro em Nova Era, naquela época chamada S. José da Lagoa. Enquanto se estabelecia, minha mãe, eu e minha irmã Terezinha permanecemos em nossa terra.

Em São José da Lagoa, cidade bem movimentada, tudo deu certo. Então meu pai nos trouxe para residir em definitivo por aqui, enquanto ele se dedicava à fabricação de móveis. Eu era pequena, tinha apenas dois anos.
Pouco-a-pouco, já em 1931, começamos a fazer amizades com os vizinhos mais próximos. Com o passar dos tempos, nosso circulo já havia expandido bastante. Foi assim que aprendi a amar Nova Era, cidade que de coração adotei.

Nossos primeiros amigos foram a família do senhor Juca Teixeira, conterrâneo e amigo de meu pai, responsável pela nossa mudança. Éramos vizinhos, também, das famílias de Américo Gonçalves, do Sr. Juca Conrado, pai do dentista Zé Conrado – que se casou com Maricas Conrado. Aos poucos, fomos conhecendo Juca Bruzzi, casado com D. Mariquinha Bruzzi; bem como o farmacêutico Juquita Bruzzi, casado com Dona Nanana e suas filhas. Muita amizade também com as filhas do senhor Juquinha Lima, diretor do grupo escolar Desembargador Drumond por mais de 40 anos. Juquinha era pai de Terezinha e Aparecida, grandes amigas da infância.

Minha 1ª comunhão foi na matriz de São José. Guardo, até hoje, um santinho como recordação. Na época, entrei para o Grupo Escolar, situado bem no adro da Matriz, no alto de um morro, donde se via toda a cidade e o rio, lá em baixo, fazendo uma curva bem aberta, parecendo a letra S.

Já estava me esquecendo, mas ainda é tempo: o nosso lar se enriqueceu com o nascimento de minha irmã Vilma, do Haroldo e da Hermozina, que carinhosamente eu chamei de Zizina e da qual sou madrinha. Interessante: não me recordo de ser chamada pelo meu nome, pois minha irmã-afilhada, até hoje, me chama somente de madrinha! Aos poucos, conhecia grande parte das pessoas, com muitas amizades boas.

As professoras eram maravilhosas e tinham um carinho muito especial para comigo. Eu gostava de todas as aulas, entretanto, a que mais me fascinava era a aula de religião, na qual a professora explicava a necessidade de orar, pedir proteção à Nossa Senhora, etc. Fiz parte da Legião das Filhas de Maria e recebi a fita azul. Após o casamento com Ismael, recebi a fita vermelha, do Apostolado da Oração do Coração de Jesus.
Na escola, participava constantemente dos auditórios nas datas comemorativas: recitava, cantava, dançava vestida com trajes típicos, muito bonitos, sempre confeccionados por minha mãe. (Quando fiz o 2º grau, já estava casada e com filhos!).
Com freqüência, minha mãe nos levava à casa da conterrânea Maria Machado Teixeira, casada com Jós Teixeira, pais de Carmita, Olga, Terezinha, Nenêga, Pedrinho e Neném, de quem sou madrinha.
Aprendi a tricotar, fazia sapatinho de lã para bonecas, vez por outra vendia alguns pares para minhas amiguinhas. Em pouco tempo, atendia às encomendas de gestantes. A baiana Zulmira, nossa vizinha, ensinou-me a bordar em “Ponto de Cruz”.

Meu pai foi trabalhar como sub-gerente na Serraria São Pedro. Durante um longo período, todos os dias, eu levava o almoço para ele e seguia para o grupo escolar.

O tempo passava, e me tornei adolescente. Duas vezes por semana acompanhava meu pai ao cinema, naquela época ainda “mudo”, no qual ele era operador: da cabine. Assisti centenas de filmes, um privilégio.
Aprendi com Carmita o corte e a costura. Aos 13 anos, executava com perfeição qualquer modelo escolhido pelas clientes em revistas especializadas.

Eu crescia, procurava ser elegante, vaidosa, não dispensava o batom, rouge e outros cosméticos, embora minha mãe não gostasse.

Percebia alguns rapazinhos de meu bairro olhando com insistência para mim. Muitas vezes retribuía com um sorriso. Em casa, porém, conversando com amiguinhas na presença de minha mãe, eu sempre repetia:
- Namorar? Só se for com alguém lá do centro. Daqui do bairro, não.

Corria o tempo e completei 16 anos. A amiga Olga preparava-se para casar. Seu noivo chamava-se Diló, irmão de Cicí, Irany. Como amiga das meninas, fui convidada e compareci ao casamento, que teve as solenidades habituais, lindas.
Após o almoço, os noivos embarcaram para Belo Horizonte, pela Estrada de Ferro Central do Brasil. Acompanhamos os nubentes à estação para o festivo bota fora. Quando todos se preparavam para retornar às suas casas, no centro da cidade, me vi sozinha, pois residia no bairro Sagrada Família. Então murmurei:
- Nossa mãe! Vou voltar sozinha para casa?
Um jovem, que estava perto, disse:
- Se você permitir, eu a acompanho...
- Não sei quem é você!
Irany, minha amiga, intervém dizendo:
- Este é meu irmão, seu nome é Ismael.
Estendo a mão ao Ismael:
- Muito prazer.
E ele:
- Estou encantado, Aparecida, agora posso acompanhá-la?
Concordei, conversamos durante todo o trajeto até próximo à minha residência. Ao se despedir, o Ismael me perguntou:
- Você vai ao centro mais logo?
- Não sei...

Mas à noite, junto com minha irmã Terezinha e algumas amiguinhas, lá estava eu fazendo o footing (as moças andando pela rua, de braços dados, enquanto os rapazes observavam, da calçada). Caminhávamos juntas: Cici, Irany e outras mocinhas de minha idade. O footing era o programa predileto, para o qual nos preparávamos com as melhores roupas. Os rapazes, naquela época, também se esmeravam e trocávamos olhares rápidos, ríamos entre nós, comentávamos sobre um ou outro. Quem sabe, dentre aqueles, algum príncipe encantado haveria de se aproximar?

Em uma roda de amigos, descobri o Ismael, que olhava com freqüência para o nosso lado. Após algumas voltas, já conversávamos. Eu, com apenas 16 anos, conheci o Ismael, com seus 23. Foi bem aí que começou o interesse de um pelo outro.
Resultado: em 5 de junho de 1948, nós nos casamos!

E que felicidade! Hoje, dia 05/06/2005, completamos 57 anos de casados!

E o melhor, até hoje continuamos eternos namorados um do outro.”