Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

quinta-feira, março 24, 2005

Vai uma Baba de Moça, uma Pilha de Homem ou aceita um Pau Dentro?

Ontem fui comerciante.

Todo comerciante que se preze deve fazer ingentes esforços para que o seu comércio prospere.

Comigo não foi diferente: além de me esforçar muito, tive sempre a indispensável colaboração da minha eterna namorada, a Aparecida. E como colaborou!

Os “meninos” também participaram naquilo que, durante anos, foi um dos sustentáculos de nossa família. Os nove trabalharam no Soié Bar: Cláudio, Clóvis, Cléver, Ismael, Sheila, Jaques, Ilídio, Nélio e Bonifácio, aos quais renovo os agradecimentos.

Eu e meus irmãos nascemos numa velha casa, bem no centro de Nova Era-MG. Na década de setenta, foi demolida para dar lugar a um imóvel de três pavimentos, no qual temos, até hoje, um apartamento “com quintal e cobertura”. Foi numa das lojas deste prédio que montamos a lanchonete, batizada por minha esposa com o nome "Soié Bar e Lanchonete”. Para efeitos fiscais, o registro foi feito em nome da Aparecida, pois eu era funcionário público.

Nós dois decidimos pelo comércio com duplo objetivo: além de aumentar a renda familiar, daríamos aos nossos filhos adolescentes uma oportunidade de sair da ociosidade.

Devo esclarecer que a permanência deles atrás do balcão não os impedia dos estudos nem do lazer. Por exemplo: de acordo com a idade de cada um, ensinei-os a andar de bicicleta, a dirigir e até a nadar na piscina do Minas Esporte Clube.

Aparecida e uma auxiliar de cozinha produziam os gostosos quitutes oferecidos: pastéis, quibes, carne cozida e torresmos crocantes, arroz-doce, bolos, biscoitos. Não faltava o tradicional pão-de-queijo dos mineiros, uai!Tudo da melhor qualidade!

Alguns fregueses tomavam refrigerantes; outros preferiam o café e muitos exigiam aquele toddy que só no Soié Bar era servido... O movimento ia das 5 horas da manhã até à noite e, graças ao nosso capricho, era bastante o suficiente para garantir uma renda razoável.

Como nem só de pão vive o homem, a todos que desejassem aquela geladinha que desce redondo, wisky ou até mesmo aquela-que-boi-não-bebe, o Soié Bar atendia prazerosamente. E como atendíamos bem!

Não sou psicólogo, mas eu conhecia a psicologia dos fregueses. Tanto é verdade, que passei a preparar aquela-que-boi-não-bebe de maneira que todos queriam provar da Laranjinha, da Providência, daquela do Pau Dentro, da Pilha do Homem e de uma tal Baba de Moça. Enfim, umas 20 qualidades exclusivas do Soié Bar, cada qual preparada por mim mesmo, na sobre-loja. Tudo em segredo, pois eu atribuía a uma e outra as procedências e propriedades mais mirabolantes. A "Pau Dentro" tinha um pedaço qualquer de madeira na garrafa. A "Laranjinha" recebia umas cascas de laranja. Assim por diante. Os clientes acreditavam e tinham lá suas preferências. Mal sabiam que todas aquelas diferentes bebidas eram uma só: diferiam na cor e, às vezes, no aroma! Alguns, seduzidos pelos nomes sugestivos, pediam a "Pilha do Homem" e, no dia seguinte, confirmavam sua eficácia. Tal o valor da fantasia!

Coisa importante: jamais houve desentendimentos, falta de respeito, ou qualquer ato que pudesse prejudicar alguém ou a boa reputação do nosso Soié Bar.

O Caju Amigo era o aperitivo preferido dos jovens e das cocotinhas, filhos e filhas de papais ricos. Era servido em dois cálices para cada freguês, sendo 1 de pinga e outro de suco de caju. Bebia-se em primeiro lugar a pinga e, logo em seguida, o suco de caju. Que delicia!

O Soié Bar funcionou por quase 25 anos, até que Aparecida foi convocada para um emprego público (contadora judicial). Os filhos, cada qual a seu tempo, seguiram suas vocações, cursaram a universidade, namoraram, casaram-se, deram-nos netos, etc. Bons tempos os tempos do Soié Bar...

Aquele abraço!

terça-feira, março 22, 2005

GRATIDÃO

Meus amigos blogueiros,

Eu não poderia me sentir completamente feliz, continuando omisso, não agradecendo a todos que deixaram em meus posts seus delicados comentários.

Nestes quase dois meses de vida do Ontem e Hoje, tenho recebido manifestações de carinho de diversas partes do mundo.

Do Brasil, recebo carinhosos comentários e incentivos de quase todos os estados.

Caros amigos, continuem a me prestigiar.

Diariamente, visito e leio todos Blogs de minha listagem. São excelentes e de fácil compreensão. Estou aprendendo muito com vocês.

Com meus sinceros agradecimentos, desejo a todos uma

Feliz e Santa Páscoa!

quinta-feira, março 10, 2005

A CIGANA ME ENGANOU. QUE BOM!!!

Os ciganos são pessoas que vivem de cidade em cidade, vendendo seus tachos e panelas de cobre (muitas vezes simples latão), trocando animais e, às vezes enganando a todos. Têm seu próprio dialeto. Andam sempre em grupo.
As mulheres, com dentes e colares de ouro (ou bijuteria), roupas vistosas em cores vivas, geralmente com os cabelos compridos e em pontos estratégicos das cidades, lêem a sorte na palma da mão de todos que queiram saber o passado, o presente e o futuro.
Há bem pouco tempo, o Cláudio, do PRAS CABEÇAS, fez a minha apresentação dizendo que eu era “seleiro”. Mas, por distração, esqueceu-se de mencionar que eu possuía também uma sapataria na qual, além de consertar, fabricava calçados.

Os ciganos caminhavam muito, assim seus sapatos se estragavam com facilidade. Quando se acampavam em Nova Era, minha sapataria era o ponto preferido pelas ciganas para compra e consertos de sapato e sandálias.

Determinado dia, uma bonita cigana em seus 20 anos de idade, entrou no estabelecimento, sentou em uma cadeira do lado de dentro do balcão e me chamou assim:

- “Psiu”, chega aqui.
Aproximei-me. Estavam presentes meus dois funcionários. Então falou:

- Hoje vou ler a sua sorte e nada cobrarei, repetindo, não vou cobrar nada. Me dê a mão.

Embora sem acreditar que alguém pudesse prever o futuro, consenti. A cigana abriu a sua própria, colocando o dorso de minha mão na palma da sua. Ato contínuo, disse que estava vendo em meu brilhante futuro um mundo de glórias. Falava sempre de algo que todos nós gostaríamos que acontecesse. Em dado momento, exclamou, de chofre:
- Meu Deus, que vejo?! Será possível?
E apontando o dedo para o decote de sua blusa, acrescentou:
- Coloque uma nota aqui, para clarear! Para clarear!
Não coloquei, alegando não ter dinheiro.

Ela prosseguiu declamando seus “decorados” conhecimentos; e os meus funcionários sempre com a atenção voltada para o monólogo da cigana, pois só ela falava. De repente, ficou em silêncio por alguns instantes. Suspense. Em seguida, exclamou:

- Que vejo?! Oh! Que vejo?! Um enterro daqui a alguns meses!!! Não é possível! Meu Deus!!! O viúvo se parece com você!
Com voz pausada, como se tentasse vislumbrar algo ainda meio obscuro, prosseguiu:
- Está tudo com muito nevoeiro, não vejo direito, mas é você mesmo!
E eu, em silêncio, só escutando.
- Ainda há tempo de mudar o destino... Coloque aqui uma nota para clarear, continuava apontando o decote generoso.

- Não tenho dinheiro, retruquei.

A cigana então disse:

- Você quer assim, pois assim será!
Empurrou bruscamente a minha mão e saiu da sapataria.
Lá fora, foi logo dizendo às companheiras, que a aguardavam na calçada:
- Com ele não teve jeito.

É claro que a profecia trouxe muita preocupação para mim, apesar de minha descrença.

Mais tarde, ao retornar para casa, fui recebido pela minha eterna namorada Aparecida, a qual, como sempre, perguntou-me pelo movimento do dia, se trabalhei muito, etc. Respondi que foi tudo muito bom, nada contando sobre a cigana.

Horas depois minha esposa aproximou bem e, em tom de súplica, perguntou:

- Meu bem, que houve? Estou achando você muito sem graça, que aconteceu? Discutiu com algum freguês?

- Sim, Aparecida, desentenderam comigo, mas já passou.

Eu não podia e não queria contar nada sobre a cigana, tinha medo de perder o 1º filho, o Cláudio, que estava para chegar.
Os dias se passaram e o meu silêncio a respeito da possível viuvez permanecia. Logo o Cláudio nasceu. Muita alegria, muita visita diariamente. Chegou o dia do batizado, só alegria, tudo era festa. Esqueci-me por completo das palavras da cigana.

Meses e anos se passaram e o Cláudio ganhou 8 irmãos! Entre eles apenas uma menina, a Sheila.

No dia em que comemorávamos nossas Bodas de Prata, passou por nossa casa um cigano oferecendo um tacho de cobre que não compramos. Quando ele se afastou, eu disse à Aparecida:

- A cigana me enganou. Que bom!

Segurando suas mãos, contei tintim por tintim o episódio de tempos atrás e repeti:
- A CIGANA ME ENGANOU. QUE BOM!!!
Rimos bastante. Já comemoramos as Bodas de Ouro. Em 2008 comemoraremos as Bodas de Diamante.

Aproveito para convidar todos
vocês: compareçam!

sexta-feira, março 04, 2005

MEU PAI ME ENSINOU

Já se passaram mais de sete décadas...

Recordo-me com muita satisfação de fatos freqüentes em minha infância. Um deles é o seguinte:

Eu e meu irmão mais velho, Diló, que atualmente reside no bairro da Serra, em Belo Horizonte, éramos garotos sadios, e espertos. Às vezes fazíamos trapalhadas, pois jogávamos pedras com “estilingue” (bodoque) no telhado dos vizinhos. Mas... isso já passou, deixa pra lá.

Nosso pai, conhecido como Sô Ilidinho, era comerciante. Diversas vezes, durante a semana, nos acordava pela manhã, bem cedinho, com o dia ainda escuro e nos convidava para sair à rua, a fim de achar dinheiro (pratinhas). Explicava que alguma pessoa poderia ter perdido alguma moeda, durante a noite. Caminhávamos, então, em direção à parte onde o comércio era mais movimentado no período noturno.

Importante: sempre achávamos dinheiro! Era comum encontrar duas a quatro pratinhas. Como era gostoso abaixar e apanhar aquelas moedas.

Antes de voltar pra casa, papai nos conduzia às margens do rio Piracicaba que, na época, tinha águas cristalinas. Descalços, entrávamos no rio e nos ensinava a nadar. Que delícia!

Eu e o Diló deitávamos na água e papai, com a palma da mão debaixo de meu queixo, mantinha minha cabeça fora d’água para que aprendesse a boiar, movimentar os pés e braços, enfim, aprendesse a nadar. Claro que aprendi. Diló, igualmente: como nadávamos bem!

Chegando em casa, nossa mãe, Nhanhá, colocava 2 ovos de galinha caipira a esquentar, um pra mim outro para o Diló. Em seguida, servia-nos café-com-leite e pão com manteiga. Que saudade de meus pais!!!

Depois que me tornei adulto, pensei:

- Seria o próprio papai quem jogava as moedas para a gente encontrá-las? Seria esta a sua maneira de nos acostumar a levantar sempre bem cedo?

Se assim foi, conseguiu o objetivo.

Todo fim de semana, eu, Diló e outros companheiros nadávamos no Piracicaba, que era bem mais profundo e limpo do que hoje.

O lugar predileto para entrada no rio era exatamente onde agora está a Ponte dos Arcos, da qual falei outro dia. Em nado de braçadas, alcançávamos a outra margem, 50 metros abaixo. Após um pequeno descanso, nadávamos de volta até o meio do rio. Daí, em nado de costas, a água nos levava até um local próximo à atual ponte Eliezér Batista, exatamente onde existia uma praia de areia bem branquinha, na qual brincávamos a valer.

Depois, caminhando rio acima, alcançávamos novamente o ponto inicial. Caíamos então na água, nadando de braçadas para a outra margem, mais próxima à nossa casa.

quarta-feira, março 02, 2005

COLEÇÃO DE PEDRAS

Há pouco mais de 18 anos, nós dois, eu e Aparecida, minha "eterna namorada", em férias forenses, fomos a Rio das Ostras - RJ, hospedados no Condomínio Inajara Hotéis, que nem sei se ainda existe.

O desejo de conhecer os arredores e outras praias nos levou até Cabo Frio e Búzios. Ao chegar em Búzios, tive receio de passar para o outro lado do rio ( ou canal) por uma pequena ponte em arco, de aproximadamente 45 graus. Cloquei a 1ª marcha no valente Fiat e, com muito cuidado, subo a ponte e desci aliviado do outro lado. Realmente tive medo! Finalmente, chegamos à praia de areia fina e bem fofinha. Não demorou nada e já estávamos dentro da água. Que gostoso! Mas também com o calor intenso, quem não gostaria de dar uns mergulhos?

Pois bem. Em um desses mergulhos, Aparecida voltou à tona, trazendo uma pedram feia, bem suja, com muito lodo. Além dos grãos minúsculos, este foi o único objeto maior que descobrimos em quase toda a extensão da praia. Minha mulher a lavou bem lavadinha e... que surpresa agradável! Tratava-se de uma pedra bem diferente de outras que conhecíamos. Aparecida então resolveu:
- Vou levar esta pedra para Nova Era como lembrança daqui!
Quase que por acaso, iniciamos uma coleção.

Se há prazer que curtimos, principalmente após a aposentadoria, é conhecer as belezas deste nosso imenso Brasil. Por exemplo, no litoral capixaba, visitamos quase todas as praias de mineiros, como Guarapari, Nova Almeida, Piúma, Castelhanos, Manguinhos, Iriri, Carapebus, Anchieta (em cujas areias, reza a lenda, o Padre Anchieta teria escrito um lindo poema em latim). De cada uma dessas, Aparecida sempre trouxe uma pedra como lembrança.

Em Minas, entre muitas outras cidades, admiramos consideravelmente Poços de Caldas com seus pontos turísticos, Três Corações com a estátua do Rei Pelé, Caxambu, Cambuquira e São Lourenço e suas fontes de águas térmicas e radioativas. E aparecia a catar pedras de cidade em cidade.

As cidades históricas da Estrada Real fizeram parte de nosso roteiro: Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Diamantina, Sabará, Santa Bárbara (e a maravilhosa Serra do Caraça), Itabira, Acesita. De Abre Campo e São Pedro dos Ferros, lembranças especiais, já que foram o berço da família da minha eterna namorada. Por ali nasceram meus sogros, José Bonifácio e Dona Mundica!

Mais e mais pedras foram se agregando à coleção, que crescia e crescia ( e continua crescendo até hoje)!

Visitamos já algumas capitais, como Vitória, Natal, Fortaleza, João Pessoa, Aracajú, Brasília, Palmas. Cada qual está representada por uma pedrinha!

Estivemos em Gurupi, no estado do Tocantins, onde moram meu filho Jaques, minha nora Sandra e os dois netinhos, Vinícius e Rafael. Temos pedras de lá também, uai!

Acreditem que a coleção já está ficando internacional: minha irmã e afilhada, Maria Costa, nos ofereceu uma pedra de Londres, onde mora o sobrinho Júnior. Há pedras de Paris, de Roma, do Vaticano e Portugal, oferecidas por outra irmã, a Irany Paulina Costa, minha vizinha aqui em Nova Era.

Algumas foram oferecidas por netos, sobrinhos, noras e até por guia de empresa turística! Há pedra doada pela amiga Letícia, casada com o amigo Paulo Alonso, lá de Brasília. Importante: a coleção está guardada numa cristaleira, trabcada a chave, muito bem protegida da poeira. Acredito que não haja, no mundo inteiro, outra coleção semelhante... Brevemente estará no livro dos recordes!!! (Será presunção demais?)


(Este post foi escrito a pedidos.)


Coleção de Pedras da Aparecida.