Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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Local: Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil

Alguém que sempre quer saber mais: inquieto, crítico, curioso.

domingo, maio 29, 2005

Avô, mais uma vez!


Aparecida e o netinho Haroldo

Este garotão junto a Aparecida é o nosso neto mais novinho, apenas 14 dias. Quando nasceu, media 51 centímetros e pesava 3.710 gramas. Os pais, Bonifácio e Cida, estão curtindo o irmãozinho de Luana, como nunca se viu.
Abraços!

sábado, maio 21, 2005

ALIANÇAS PENTA-CAMPEÃS

Eu e minha eterna namorada Aparecida, contraímos matrimônio em 05/06/1948, na igreja matriz de São José, localizada lá no topo da ladeira, a meio caminho da gruta de São José e suas águas milagrosas.

Aparecida e eu - 05.junho.1948 Posted by Hello


A cerimônia religiosa foi celebrada pelo meu amigo, o padre Antônio Mendes Barros, que sempre me cumprimentou assim:
- Oh! Árbitro da elegância masculina!!!
E eu respondia no mesmo tom:
- Oh! Sua Santidade o Papa!!!
A igreja, literalmente cheia, estava ornamentada com flores, candelabros com suas velas acesas, tapetes vermelhos e outros detalhes; os bancos, repletos de convidados que conversavam a meia voz uns com os outros.
Quando eu e minha mãe, Eutargina – que se apresentava como Nhanhá - desfilamos em direção ao altar, não se ouviu o menor ruído, todos em silêncio com os olhos voltados para nós, estampando, nos semblantes risonhos, entusiasmos e alegrias. Eu olhava para a direita e esquerda sorrindo ... sorrindo sempre. Em cortejo, as testemunhas também desfilaram em direção ao altar.
Bem à frente, em bancos reservados para os familiares, meu pai Ilídio Clementino – conhecido como Sêo Ilidinho - se encontrava junto aos meus irmãos: Diló e sua esposa Olga, com o filho Wagner; Cici - de saudosa memória; Irany, Inésia, Ismar e Irineu. Até a minha avó Leopoldina, que chamávamos de Mamãe Didina, compareceu. Lá estava a avó da Aparecida, dona Maria Moreira, conhecida parteira da cidade, que ajudou o meu filho Cláudio a nascer. É lógico que não faltaram a mãe de Aparecida, dona Raimunda (Mundica) e suas três filhas, Terezinha , Vilma e Zizina, além do meu amigo José Viana e minha prima Zoraida, como testemunhas.
Minha noiva, na porta da igreja, aguardava o término do cortejo.
O coral, dirigido pela freira Irmã Celeste, entoou a Ave Maria de Gounod, num emocionante fundo musical para a entrada de Aparecida, de braços com o saudoso pai, José Bonifácio Domingues, vestido num terno impecável, sempre muito elegante, vaidoso que era.
Lentamente, eu e minha mãe nos encaminhamos em direção a Aparecida que se aproximava. Cumprimentei meu sogro, Bonifácio, despedi-me de minha mãe Nhanhá e respeitosamente depositei um ósculo na face de minha quase esposa. Juntinhos nos dirigimos ao altar-mor, onde nos aguardava o Padre Antônio.
A cerimônia transcorreu de acordo com o ritual. Um momento inesquecível foi a Bênçãos das Alianças:


1ª Bênção
Os dois pajens, Maria Costa minha irmã e afilhada mais o Haroldo, irmão de Aparecida, vagarosamente caminharam em nossa direção conduzindo as alianças que repousavam sobre delicadas almofadas.
O sacerdote abençoa as duas alianças. Pega a menorzinha, coloca-a em minhas mãos e manda que eu a beije e a coloque no dedo anular da mão esquerda de Aparecida, recitando:
- Maria Aparecida, eu te recebo como minha legítima esposa, e prometo ser fiel, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te todos os dias de minha vida.
Em seguida, tomou a outra aliança, entregou-a a Aparecida, que
a beijou e colocou no meu dedo, com idênticas promessas, respeitadas até hoje, durante esses últimos 57 anos.

2ª Bênção - Bi
Dez anos são transcorridos. Estamos em 1958.
Numa tarde, nós dois estávamos de volta lá da gruta de São José, quando resolvemos entrar na igreja matriz para orações.
Por acaso, realizava-se um casamento. Percebemos que se tratavam de pessoas humildes, pobres. Aguardamos à porta para não incomodar. Eram dois idosos que se casavam, testemunhados apenas por uma senhora mais idosa e o padre. A igreja estava quase deserta.
Em dado momento, o celebrante nos chamou e pediu emprestadas as nossas alianças, para que a cerimônia ficasse completa. E nossas alianças foram abençoadas pela 2ª vez...

3ª Bênção – Tri – As Bodas de Prata
Quinze anos depois, em 1973, as mesmas alianças recebem a bênção pela terceira vez, quando comemoramos nossas Bodas de Prata. Houve uma Missa Festiva, com a presença de muitos amigos, parentes e de todos os nossos 9 filhos, a saber: Cláudio, Clóvis, Cléver, Ismael José, Sheila, Jaques, Ilídio, Nélio e Bonifácio. Agora, as alianças já são tri-campeãs!!!

4a. bênção - 1983 - Tetra
Desta vez, éramos testemunhas de um casamento muito chique. Igreja lotada, com direito a Marcha Nupcial e outras pompas.
Tudo normal até o momento da cerimônia da bênção das alianças.
Os pajens se aproximam dos noivos e do padre, com uma salva de prata, na qual deveriam estar as alianças no meio de pétalas de rosas. Surpresa e decepção: não havia aliança nenhuma!
Estávamos, eu e Aparecida, ao lado dos noivos. O padre teve a presença de espírito de nos pedir emprestadas as nossas próprias alianças. Abençoa-as e as entrega aos noivos, dando continuidade à cerimônia. Só no final do casamento, elas nos foram devolvidas. Pela quarta vez, são abençoadas.

5a. Bênção – 1998 -Penta – Bodas de Ouro
As Bodas de Ouro, como convinha, foram celebradas com as maiores pompas na mesma matriz, superlotada. Filhos, noras e netos demonstrando alegria pelo crescimento da família Costa. O novo vigário, Padre Efraim Solano Lopes, toma em suas mãos as velhas alianças.
Com emoção, presenciamos a 5ª bênção. Feliz, posso dizer:
- Temos alianças penta-campeãs... de bênção! Até 2005, sem dúvida, é recorde mundial!

Daqui a três anos, atingiremos novo recorde, quando nossas alianças serão hexa-campeãs!
Eu e Aparecida, eternos namorados um do outro, já estamos fazendo o programa para o grande dia, que será no primeiro sábado de junho de 2008, ao completarmos 60 anos da mais feliz união de que se tem notícia. . .
Aguardamos vocês.
_____________
Em tempo: este post foi escrito a pedido do meu segundo filho, o Clóvis. É claro que contei com a ajuda da Aparecida.

sexta-feira, maio 13, 2005

SOB A MIRA DE UM REVÓLVER

Certa ocasião, eu disse aqui, neste cantinho, que minha primeira profissão foi a de ”seleiro”, o que confirmo. Fabricava selas para montaria e outros artefatos de couro.

Fui, ainda, jogador de futebol, sempre no time principal: nunca joguei no cascudo, acho até que eu era bom de bola. (Aqui entre nós: a bola era minha!).

Minha carreira rumo à seleção do Brasil foi interrompida por uma contusão não muito grave. Tive de me afastar do gramado como jogador, mas a saudade me fez voltar ao campo, dessa vez como juiz de futebol. Modéstia à parte, eu apitava muito bem!

Sempre havia uma partida para apitar, aqui em Nova Era ou em alguma cidade vizinha, como João Monlevade, São Domingos do Prata, Itabira, etc.

Em um domingo, solicitaram-me que apitasse o maior clássico de nossa cidade, entre os dois rivais: Comercial F.C. x Minas E. C., no campo do Comercial. A cidade se dividia entre os alvinegros comercialinos e os vermelhos, do Minas. Era, realmente, um clássico que mobilizava toda a população. O jogo seria no campo do Comercial. Consideravam-me, mesmo, um ótimo árbitro, pois todos sabiam que eu jogara no Minas, tendo sido um de seus fundadores. Entretanto, confiaram na minha imparcialidade.

Já estávamos no segundo tempo. Tudo ia bem, apesar do calor da disputa. “Meu time”, ou melhor, o time do Minas, perdia de 3 a 2, quando, aos 35 minutos, tive de assinalar uma penalidade máxima contra o Comercial. É claro que os jogadores do time da casa correram em minha direção, protestando contra a marcação, gesticulando e segurando a bola. E eu, ali, no meio, firme...

Foi quando o goleiro Dedé, do Comercial, colocou-se de braços abertos à frente de seus colegas, gritando:

- Foi pênalti, sim! Eu entrei no Zé Neves para quebrar mesmo! Deixem cobrar que eu garanto: vou fazer a maior defesa!

Diante da confissão do próprio colega, não houve mais protestos.

O pênalti é batido, o jogo empatado. Mais uns 10 minutos e a partida é encerrada sem outros incidentes.

Naquela época, já era noivo da Aparecida, cuja residência ficava muito próxima do estádio Israel Pinheiro, do Comercial.

À noite daquele mesmo domingo, no trajeto para sua casa, escutei vozes vindo de um canto escuro – estávamos em 1947, a luz elétrica era de péssima qualidade – até que vislumbrei uns quatro rapazes que começaram a cantar:

- “Rato, rato, rato,

por que motivo tu roeste meu baú?

Rato, rato, rato...”

Senti que era um insulto e uma provocação. Mas segui caminho.

Pois a cena se repetiu nas noites seguintes: era eu passar e a cantoria principiava:

- “Rato, rato, rato,

por que motivo tu roeste meu baú?

Rato, rato, rato...”

Voltemos à selaria, onde exercia meu ofício:

Além de arreios para montaria em animais, eu fabricava outros artigos de couro, para pronta entrega e encomendas.

Fabricava coldres (capa) para canivetes, facas, revólveres, inclusive rifles, de alguns caçadores.

Pois bem: certo dia, o meu amigo e freguês, Sebastião José Pinheiro, levou-me um revólver muito bonito, de cabo de marfim com pontinhos dourados do tamanho de uma cabeça de alfinete, para fazer uma capa, ou coldre. Antes de me entregá-lo, como medida de segurança, o Sebastião retirou as balas do tambor e as colocou em seu bolso, sem conferir. Após escolher a cor do couro, resolveu demonstrar como funcionava bem o gatilho e o cão de sua arma, tudo muito bem sincronizado - nós dois, um de frente para o outro. O Sebastião pressiona o gatilho apontando a arma em minha direção. O tambor começa a girar, o cão vai subindo, subindo... de repente, o amigo murmurou:

- Meu Deus! quase o matei, Soié. Tem uma bala no tambor!

Depositou cuidadosamente o revolver sobre a mesa, e desmontou, como que desmaiado, na cadeira que lhe ofereci.

Uma colher de água em sua boca e uma vigorosa massagem em seu pulso o reanimaram quase imediatamente.

Escolheu o couro, acertamos o preço e lhe confirmei que poderia procurar a encomenda logo mais, no fim do dia.

Lá pelas 17 horas, fui ao armarinho do David M. Guerra, grande admirador e colecionador de armas de fogo, a fim de lhe mostrar o lindo revólver. Ao entrar em seu estabelecimento, percebi, junto ao balcão, um dos “seresteiros” das últimas noites. Com calma, desfiz o embrulho, exibindo ao David a obra prima. O rapaz, lá, espiando com o rabo dos olhos. Depois de bem examinada, o David perguntou:

- Esta arma é sua? Você quer vender, Soié?

Em voz alta, respondi:

- É minha, sim, mas não está à venda.

E acrescentei:

- A partir de hoje, estarei sempre com ela na cintura, pois tem gente que está me insultando quando vou à casa da Aparecida. Qualquer hora dessas, vou disparar tiros em direção aos safados, escondidos que ficam no meio da escuridão! Até amanhã, David.

Virei-me para o moço que espiava junto ao balcão e repeti:

- Até amanhã, meu caro.

Nessa mesma tarde, entreguei o revólver e seu coldre ao Sebastião.

Continuei a visitar minha noiva, como fazia todas as noites. Já não era molestado por ninguém, muito menos pelos jovens “seresteiros”. Até hoje!


Agora, se querem saber: Nunca, jamais, em tempo algum, andei armado!...

quarta-feira, maio 04, 2005

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Há anos, leio o jornal diariamente. Aparecida, minha eterna namorada, me acompanha e a gente sempre troca idéias acerca das notícias. Há algum tempo, o Estado de Minas, no caderno EM Cultura, publica crônicas na última página, numa sequência fixa, com os seguintes cronistas:
  • Alcione Araújo: segunda-feira
  • Carlos Herculano Lopes: terça-feira
  • Fernando Brant: quarta-feira
  • Frei Betto: quinta-feira
  • Ziraldo: sexta-feira
  • Cyro Siqueira: sábado
  • Affonso Romano de Sant'Anna: domingo
Tem crônica sobre todos os assuntos, alguns alegres, outros tristes. Eles falam de literatura, contam casos, escrevem sobre política.
Pois bem, na segunda-feira, anteontem, dia 2 de maio, o Estado de Minas publicou o texto abaixo, com o título Ligações Perigosas, que achei muito interessante. Resolvi copiá-lo. Vejam:

Fim do dia, Darcy Camelo, diretor da área de petróleo, interfona á secretária:

- “Amélia, eu perdi o meu celular ou não sei onde o esqueci; você me faz um favor: liga para Dilu, minha empregada, e pede para avisar à minha mulher – até tentei falar diretamente com a Beatriz, mas o celular dela está desligado ou fora de área, não sei – e peça a ela para avisar a minha mulher que estou indo para o aeroporto e não volto para casa hoje. Aconteceu uma emergência convocaram uma reunião do conselho diretor em São Paulo – você viu a agitação que houve hoje aqui – pra decidir sobre a expansão do setor de petróleo da América Latina. Vou para o apart-hotel Magnólia, como sempre. Vou jantar no Maria Imaculata. Mais tarde, depois do jantar, ligo para ela do quarto. Obrigado, Amélia”.

A secretária Amélia liga para a casa do chefe, atende a sogra dele em visita à filha que fora ao super mercado. Ela deixa o recado com a sogra:

- “O doutor Darcy Camelo está pedindo pra dona Dilu estar avisando a dona Beatriz - esquisito, né? - nenhuma das duas estar sendo encontrada - que não vai estar voltando para casa hoje. Aliás, ele disse não estar entendendo o que está acontecendo com o celular da dona Beatriz que está sempre desligado ou fora de área. Ele pediu para avisar a dona Beatriz que não vai estar voltando para casa hoje porque vai estar indo para São Paulo, onde vai estar se hospedando no Apar-hotel com Maria Magnólia, como sempre, vai estar jantando no Maria Imaculata. Na reunião de hoje o conselho vai estar discutindo a expansão do petróleo na América Latina. Devido estar ocorrendo uma emergência, está ocorrendo muita agitação por aqui hoje, a senhora deve estar sabendo. Mais tarde depois da reunião ele vai estar ligando direto para o quarto dela."

A sogra, de partida, dá o recado à empregada:
- "A secretária do Darcy – mulher mais enxerida, eu heim!- achou estranho que nem você e a Beatriz estivessem em casa! Beatriz tem que abrir o olho com essas secretárias, eu heim! Bem, ela ligou para dizer que o Darcy vai estar indo com a Magnólia para o conselho diretor. Quem é essa Magnólia, Dilu? A Beatriz conhece? E uma tal de Imaculada? Já ouviu falar nessa Imaculada? Eu heim! Parece que está havendo muita agitação e poderá haver até uma explosão de petróleo na América Latina – a enxerida disse que eu devia estar sabendo - mas nunca ouvi falar nisso. O Darcy manda dizer também que não vai mais ligar para o celular dela, porque está desconfiado que ela desligou para não atendê-lo. Beatriz está no supermercado mesmo?

Bem ele mandou dizer que está no quarto de emergência do motel, eu vou embora, isso aqui vai ferver! Eu heim!”

É noite quando Dilu dá o recado à patroa:
- "Dona Beatriz, a senhora nem vai acreditar o que aconteceu, a América Latina explodiu! Espalhou petróleo por todo o lado! A maior agitação, Virgem Maria Santíssima! A mãe da senhora perguntou se a senhora estava mesmo no supermercado, eu disse que sim, mas fiquei meio assim. O doutor Darcy disse que essa é a maior emergência que já houve em São Paulo! Valha-me Deus! Pra ele dizer isso deve ser o fim do mundo! O pior a senhora não sabe, dona Beatriz, até tremo de medo de falar. Fica calma, dona Beatriz, que Deus nos perdoe., Na agitação, o doutor Darcy ficou sabendo do rolo da senhora com o Edson Celulare! Foi a maior confusão, mas ele ouviu o conselho do diretor e se mandou com a Magnólia - Magina que essa zinha se esbalda com o marido alheio e se diz virgem e imaculada! A senhora conhece a vadia? Essa noite o motel vai ferver! A mãe da senhora que não é besta, ouviu essa história e se mandou, o doutor Darcy que não é besta se mandou com a Imaculada, e a senhora que não tem nada de besta, vai se mandar com aquele gato. Então, dona Beatriz, faz favor de não me fazer de besta, acerta minhas contas. Sou uma mulher de respeito, não posso ficar no meio dessa desmoralização. Eu, heim!”

Gostaram da crônica do Alcione Araújo? Este é o nome do cronista. Abraços, Soié.