Ontem e Hoje

A T E N Ç Ã O: ESTE BLOG É ESCRITO POR MIM, ISMAEL CIRILO, 87 ANOS. PODEM ME CHAMAR DE SOIÉ. (ONTEM E HOJE está sendo publicado na conta de meu filho Cláudio, por isso o perfil dele é que está aparecendo. Coisas do Blogger Beta!).

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terça-feira, setembro 20, 2005

MINEIROS EM FÉRIAS

Há cerca 15 anos, o nosso filho Cláudio nos convidou para um passeio em Cabo Frio- RJ.

Eu e minha eterna namorada Aparecida não pensamos duas vezes. Aceitamos de bom grado a oportunidade para convivermos, durante duas semanas, junto ao casal Cláudio/Amélia e seus três filhos: Ana Letícia, Ângelo e Leonardo.

Na véspera, estreando um carro novo, seguimos de Nova Era para Belo Horizonte, aonde chegamos ao anoitecer.

Após os cumprimentos e toda aquela algazarra, Amélia nos chamou para o lanche caprichado, especialmente preparado pela própria. É claro que não faltou o tradicional pão-de-queijo, uai!

Já era tarde, o papo ainda bem animado, e o Cláudio nos lembra de que, no dia seguinte, viajaríamos bem cedinho e convida a todos para o descanso.

A noite passou rápida. Levantamo-nos antes de o dia clarear e rapidinho fizemos o desjejum. Aparecida ajudou Amélia a lavar a louça e colocar a casa em ordem. Tudo muito rápido.

Às seis horas, já estávamos em nossos carros. Para dividir o peso, Ângelo e Leonardo (naquela época, meninos) viajariam em nossa companhia. O trajeto foi tranqüilo, o céu claro, a estrada bem sinalizada e o trânsito leve.

Passava do meio-dia quando chegamos ao Condomínio Long Beach, subúrbio de Cabo Frio, entre a rodovia Amaral Peixoto e o mar.

Após identificação, o segurança do Condomínio abriu a porteira, mostrou a alameda onde estava localizada a casa, entramos, desfizemos a bagagem e estendemos as camas. O banho ajudou a regenerar as energias.

Como bons mineiros, corremos logo para conhecer as praias do Condomínio: eram de mar aberto e inclinavam-se abruptamente para as águas agitadas. Perigosíssimas! Havia um paredão a separar as areias da rua, numa altura de mais ou menos 4 metros. Com a maré cheia, ondas fortes, enormes, teimavam em lutar contra as pedras da amurada, de tal forma que era impossível permanecer no local. Apesar de ocuparmos uma casa maravilhosa, logo vimos que não poderíamos usufruir com tranqüilidade daquelas praias.

Saímos para conhecer os arredores e, como ainda não almoçáramos, fomos àquele restaurante perto do Hotel Malibu, na Praia do Forte, em Cabo Frio. Diante das areias branquíssimas, Cláudio não resistiu e gritou:

- Ôôôô, marão!

Passeamos por Cabo Frio, Rio das Ostras e Búzios até que, ao escurecer, regressamos ao Long Beach.

Dia seguinte, pela manhã, já preparados para nadar, voltamos a Cabo Frio, decididos a mergulhos e braçadas nas cristalinas e geladas águas do Atlântico. Que praia!!! Areias branquinhas, suaves, macias, eram um convite para permanecer ali por todo o dia. Assim o fizemos. Ninguém se lembrou de almoçar. Ficamos nos tira-gostos de cação a palito, peroá com arroz, tomates e camarão, água de coco, algumas cervejas e refrigerantes. Sem tirar nem por, assim foi o primeiro dia de praia dos mineiros, ainda branquelos, lógico. A todo o momento, o Cláudio exclamava:

- Ôôôôô, marão!

Ninguém entendia nada. Concluí que era sua admiração pelo mar imenso. Aos poucos fui percebendo que... deixa pra lá!

Voltamos a tempo de assistir a novela das oito, que começava às nove!

APARECIDA CAIU NO MAR!!!

Era já bem tarde e já estava em nosso quarto, quando quis comentar algo do noticiário com Aparecida. Ela, porém, já dormia a sono solto. Desliguei a TV e adormeci rapidamente. Acordei lá pelas sete horas da “madrugada”, com o barulho das ondas contra os rochedos. Aparecida não estava ao meu lado. Imaginei que ela estivesse preparando um café. Levantei-me, então.

Chamei por ela e não obtive resposta. No banheiro, não estava! Na sala, também não, nem na cozinha! Pensei em olhar do lado de fora da casa.

Observei a porta semicerrada. De um salto cheguei à calçada e não vi a minha esposa. Fiz um volteio ao redor da casa, procurando. Nada, quase tudo era silêncio, só se ouviam os estrondos das ondas do mar bravio. Ainda de pijama, corri alucinado para o lado das amuradas. Não demorou e eu já estava em cima de uma grande pedra, tendo as ondas a rugir, lá em baixo. Molhava-me com os respingos e nem avaliava o perigo que eu mesmo corria. Só pensava em minha esposa.

- Minha Nossa Senhora, será que Aparecida caiu no mar?

Com esse pensamento voltei correndo como um louco e gritando:

- Cláudio! Cláudio! Sua mãe sumiu. Aparecida caiu no mar!

Assustado, ainda sonolento, corre a meu encontro. Dei-lhe a terrível noticia. Eu estava apavoradíssimo!

Meu filho, pálido, de olhos arregalados, me perguntou se eu tinha visto a mãe dele caindo, como e onde foi que aconteceu.aquilo. Eu só repetia:

- Sua mãe sumiu! O mar está muito bravo! Tem muitas pedras lá. Vamos, vamos!

Corremos juntos, cortando caminho por outra alameda. Mal saímos, eis que surge Aparecida com caneta e folha de papel nas mãos, exibindo o desenho do sol nascente, as ondas do mar, os rochedos e a casa. Um lindo desenho!

Felizmente, tivemos apenas um grande susto, nada de acidente. Parece que tudo foi fruto de minha imaginação.

Voltamos para casa rindo e chorando ao mesmo tempo, cada qual com seu ponto de vista. Enquanto Aparecida preparava o café, Cláudio foi à padaria providenciar o pão e o leite. Amélia ajudou servir o café. Nessas alturas, todos já tinham acordado e queriam saber detalhes do “afogamento da vovó”. Após tanto susto, nada melhor do que fazer piadas.

Para variar, fomos à praia novamente. Vez por outra o Cláudio repetia seu jargão:

- Ôôôôô, marão!

E eu repetia:

- Ôôôôô, marão!

Aparecida, que não dorme com olhos de outrem, descobriu que era só passarem por perto algumas meninas bonitas, vistosas, dentro de biquíni sumário, Cláudio e eu nos manifestávamos:

- Ôôôôô, marão!

Por nossas bandas existe um ditado que diz: Chumbo trocado não dói.

Aparecida, Amélia e Ana Letícia descobriram o motivo de nossas exclamações. Acharam muita graça, riram muito, chegaram a gargalhar, foi muito engraçado, mas tudo na vida tem um porém. Elas combinaram dar o troco: assim, sempre que passava por perto um “rapazinho enxuto”, ou “sarado”, como se diz hoje, gritavam:

- Olha o tubarão! Olha o tubarão!

Foi o suficiente para convidarmos todos a um passeio nas famosas dunas.

Daí pra frente, “marão e tubarão” só em pensamento.

Os dias se passaram rapidamente e foi com pesar que voltamos para casa. Jamais esqueceremos férias tão gostosas...